Homilia - 02/06/2019 - Ascensão do Senhor
Convivemos, hoje em dia, nos ambientes de trabalho, entre vizinhos até mesmo em nossas famílias com pessoas de diferentes religiões. Não como em tempos passados, mas, às vezes, essas diferenças contribuem motivo de divisões e discussões, discórdia e desrespeito pela religião do outro ou por alguns pontos de vista seus igualmente legítimos. Por outro lado, felizmente, não raro, ouvimos pessoas dizendo: “Por quê ficar brigando? Deus é um só e ama todos indistintamente!”. E nós? Como convivemos com essa realidade?
Neste domingo da Ascensão inicia-se, também, a Semana da Oração pela Unidade dos Cristãos. A reaproximação e o mútuo diálogo entre cristãos, o apelo ao ecumenismo, representa um real testemunho para que o mundo creia no evangelho.
Estamos reunidos para celebrarmos a Solenidade da Ascensão do Senhor. Somos convidados pela Palavra da Liturgia de hoje a redescobrir o sentido missionário da vida cristã. O testamento de Jesus deixado para os discípulos é que sejam suas testemunhas até os confins da Terra. “Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo" (At 1,8). Não é um pedido apenas, é uma missão de anunciar o Reino, conscientes de que a salvação que Jesus nos trouxe é universal.
O evangelho de hoje nos fala de um momento extremamente importante na vida dos discípulos, que a transformará radicalmente. Durante quarenta dias, Jesus aparecia aos discípulos, falava-lhes do Reino e da vinda do Espirito Santo.
Depois de quarenta dias, Jesus apareceu aos discípulos quando estavam reunidos e disse: “O que está escrito é que o Messias tinha de sofrer e no terceiro dia ressuscitar. E que, em nome dele, a mensagem sobre o arrependimento e o perdão dos pecados seria anunciada a todas as nações, começando em Jerusalém” (Lc 24,46-47).
Os discípulos recebem uma missão que os levará longo, que os fará encontrar hostilidades e perseguições, que os investirá dos mesmos poderes de Jesus! Mas esta mudança radical na vida, este novo desafio, exige uma boa preparação. Para acontecer isso, os discípulos receberão a assistência do Espírito Santo.
Jesus pede aos discípulos que não se afastem de Jerusalém, mas esperem a força dos Espirito Santo, força que lhes será necessária para enfrentar a missão entregues a eles por Jesus.
Quando os discípulos viram que Jesus foi levado ao céu, ficaram olhando. Então, apareceram dois homens (anjos) que lhes disseram: “Por que estão olhando para o céu?” Querendo dizer “Agora não é hora de olhar para o céu, mas é preciso iniciar a missão, sem saudosismo e sem fugas”.
Na segunda leitura de hoje, São Paulo diz que Deus manifestou sua força em Jesus quando o fez sentar à sua direita no céu. “Deus colocou tudo sob seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja” (Ef 1,22). É isto que rezamos no “Credo”: “...subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos”.
Jesus foi ressuscitado e exaltado pelo Pai; participa do Pai e julgará as pessoas e a história. Este é um outro aspecto importante da festa de hoje.
Jesus Ressuscitado subiu ao céu e deixou esta missão: anunciar sua palavra, a Boa Nova e do anúncio da Boa Nova, no mundo inteiro.
Quem poderá anunciar esta Boa Nova hoje? Segundo o relato de Lucas, Jesus não pensa em sacerdotes nem bispos. Tampouco em doutores ou teólogos. Quer deixar na terra “testemunhas”. “Vós sois testemunhas destas coisas”.
Mas Jesus conhece bem os seus discípulos. São fracos e até covardes. Onde encontrarão a coragem para serem testemunhas de alguém que foi crucificado pelo representante do Império e os dirigentes do Templo? Jesus tranquiliza-os: “Eu vos enviarei o que o meu Pai prometeu”. Não lhes vai a faltar a “força do alto”. O Espírito de Deus os defenderá.
Quem são os discípulos e discípulas de Jesus hoje?
Somos nós! Assim como os discípulos receberam uma missão, também nós recebemos.
Qual é esta missão?
Como já dizemos, a missão entregue aos discípulos, e agora a nós, é anunciar a morte e ressurreição de Jesus, a chegada do Reino de Deus, através da fraternidade, da paz e da justiça. Este anúncio não se limita à vida interna da Igreja ou de uma comunidade. Nossa missão vai além. A Igreja existe para a salvação do mundo. Aí está seu campo de atuação. Portanto, a missão de cada um de nós é “ser Cristo no mundo”. Não pensemos que aqueles que trabalham dentro da comunidade são os melhores cristãos. Nas comunidades procuramos viver os valores do Evangelho, a presença de Cristo no meio de nós. Mas a partilha e a fraternidade que procuramos viver na comunidade, devem ser levadas para o mundo. Jesus está presente no mundo quando o testemunhamos, quando somos fiéis aos seus ensinamentos e praticamos a justiça, o amor e o perdão.
A missão de Jesus foi entregue a todos os cristãos. Não só aos católicos. Mas como anunciar quando há divisão entre os cristãos? Como fazer?
Hoje, estamos iniciando a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Todos os cristãos, católicos ou não, estão se preparando para a festa de Pentecostes. O Espírito Santo quer unir os seguidores de Cristo. Rezemos para que todos os cristãos juntos assumam sua missão e proclamem ao mundo quem é Cristo e seu Reino.
Frei Gunther Max Walzer