Homilia - 30/06/2019 - São Pedro e São Paulo
Hoje é o último domingo do mês de junho. No mês de junho celebramos as festas dos santos mais queridos do povo: primeiramente Santo Antônio, na segunda-feira passada São João Batista e hoje São Pedro e São Paulo. São festas que fazem parte do folclore brasileiro, como as fogueiras, as quadrilhas e as comidas típicas.
Para completar o clima festivo desse tempo, hoje, na festa de São Pedro e São Paulo, comemora-se o Dia do Papa.
A solenidade de São Pedro e de São Paulo é uma das mais antigas da Igreja, sendo anterior até mesmo à comemoração do Natal.
Festejando São Pedro e São Paulo, nós nos perguntamos, afinal, quem eram esses dois apóstolos, nem cobrador de impostos eram. Pedro morava em Cafarnaum, numa cidade às margens do mar da Galileia, (que nem mar era, apenas um lago). Pedro era um simples pescador. Ele larga suas redes, larga tudo seguindo Jesus.
Lendo os Evangelhos, podemos observar que Pedro é uma pessoa de temperamento extrovertido. Entre os doze discípulos de Jesus, ele é quem mais aparece, quem mais se manifesta. Como todo extrovertido, Pedro era um falador. Falava o que lhe vinha na boca sem pensar, como aconteceu quando ele chamou Jesus à parte do grupo e disse que ele não devia subir a Jerusalém e sofrer. Mas levou a pior ouvindo de Jesus: “Afasta-te de mim, Satanás! Teus pensamentos não são os pensamentos de Deus, mas dos homens” (Mt 16,23).
Pedro tinha pouco controle sobre suas emoções: “Feriu o servo do Sumo Sacerdote, cortando a orelha direita” (Jo 18,10). Pedro promete fidelidade eterna a Jesus. Fracassa. Nega-o três vezes. Ele se arrepende. Chora.
Se nos Evangelhos, Pedro negou Jesus diante de uma empregada, nos Atos dos Apóstolos, encontramos um outro Pedro. Agora ele enfrenta multidões e as maiores autoridades do povo. Ele se entrega, totalmente, à Igreja, entrega-se, totalmente, a Jesus Cristo e ao Evangelho. É preso, humilhado, apanha, sofre, morre por Jesus. São Pedro foi crucificado de cabeça para baixo, na colina Vaticana. A morte de Pedro poderia ter ocorrido em 64, ano em que milhares de cristãos foram sacrificados após o incêndio de Roma.
Talvez, seu último pensamento terá sido: “Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que eu Te amo!” (Jo 21,17).
E Paulo, quem era? Paulo, inimigo dos cristãos, numa viagem em que perseguia os cristãos, cai do cavalo na estrada de Damasco. Ele ouve a voz: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” – “Quem és tu, Senhor?” perguntou ele. “Eu sou Jesus, é a mim que tu persegues”.
Paulo não procurou explicações para sua queda do cavalo. Ele entendeu! Entendeu quem é Jesus. Entendeu que perseguir a Igreja é perseguir Jesus. Ele obedece às orientações que recebeu. Ele se aprofunda no Evangelho. Assim ele se torna o grande pregador do Evangelho, o grande missionário dos gentios. Paulo tornou-se um apaixonado por Jesus Cristo: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
É impossível resumir tudo o que São Paulo fez em favor da divulgação do Evangelho de Cristo. E ninguém consegue resumir a grandeza de sua pessoa. Podemos acompanhar a vida de São Paulo em suas viagens de evangelização pelos Atos dos Apóstolos e pelas 14 Cartas, dirigidas às comunidades cristãs.
Pedro foi escolhido para ser o chefe da Igreja: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la”. E Jesus, ainda, acrescenta: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18-19).
Como São Pedro é o primeiro chefe da Igreja, a Igreja instituiu o dia de sua festa como o Dia do Papa, sucessor de São Pedro.
A palavra do Papa, suas orientações, suas posições e suas atitudes, sempre inspiradas no Evangelho, nem sempre batem com nosso ponto de vista ou com os interesses de algumas lideranças políticas ou com os interesses utilitaristas da mídia.
De modo que muitas pessoas aguardam o dia em que o Papa legalize o divórcio, sacramente o aborto e, quem sabe, se decida a reduzir o número dos 10 mandamentos...
Ocorre que o Papa está aí para nos lembrar o que se pode “desligar” e o que se deve “ligar. E o Papa também nos deve alertar que a problemática do divórcio, do aborto etc. deve ser vista com os olhos da fé e não por interesse meramente humanos.
Lamentavelmente, mesmo católicos se deixam influenciar e levar por essas críticas às vezes bastante levianas.
Mas sabemos que nossa Igreja não é invenção humana, nossa Igreja foi instituída por Jesus Cristo, e por isso nada poderá prevalecer contra ela. Temos consciência, sim, de que ela também é pecadora, mas isto por nossa culpa, não por causa do seu fundador. Se a Igreja é santa, é por causa de Cristo, se ela é pecadora, é por nossa causa.
Atualmente, muitos escândalos são amplamente divulgados pela imprensa. Todos nós nos sentimos atingidos e, com razão, ficamos perplexos e tristes por atos inadmissíveis praticados por padres. Sabemos que formamos um só corpo. Quando um membro está doente, é todo o corpo que sofre. Mas é preciso lembrar que a nossa Igreja é mais que pessoas frágeis que a compõem. Ela está edificada sobre a rocha firme de Cristo e do testemunho dos apóstolos.
São Pedro e São Paulo, juntos, fizeram ressoar a mensagem do Evangelho no mundo inteiro e o farão para todo o sempre, porque assim quer o Mestre.
Oxalá, um dia possamos dizer como São Paulo: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que esperam com amor a sua manifestação gloriosa” (2Tim 4,7).
Frei Gunther Max Walzer