Homilia - 10/11/2019 -XXXII Domingo do Tempo Comum
Neste mês de novembro, desde o Dia dos Finados, passando pela Festa de Todos os Santos, até a celebração de hoje, estamos nos confrontando com o assunto da morte e do que há depois dela.
Temos muitas perguntas: Como é a vida “do lado de lá”? Podemos ter algum contato com a alma ou o espírito de alguém que já morreu? As pessoas podem reencarnar e ter outra vida neste mundo? E se não houver mais nada depois da morte, vale a pena se esforçar para ser bom nesta vida?
Parece que nenhuma dessas perguntas tem resposta nos textos da liturgia de hoje. Afinal, o que a Palavra nos diz? Ela fala da ressurreição e da Profissão de Fé que diz: “Creio na ressurreição da carne (ou dos mortos)”. Aí vem a pergunta: o que é “ressurreição”? Será que é continuar do “lado de lá” o que vivemos do “lado de cá”, só bem melhor, pois, não haveria a parte ruim desta vida?
Sabemos que, em nossos dias, muitos contestam e negam a ressurreição, acreditam que após a morte não existe mais nada. O que acontece após a morte sempre foi um grande mistério na história da humanidade. Os antigos filósofos gregos, por exemplo, acreditavam que após a morte, o espírito voltava, só que em um animal. Os budistas orientais acreditam que, após a morte, o espírito volta para o corpo de outra pessoa que acabou de nascer. Isso se chama reencarnação e é um conceito que é acreditado por outras religiões, inclusive o espiritismo, muito presente no nosso país. Alguns filmes de Hollywood e até algumas novelas brasileiras contam estórias seguindo essas ideias...
Esta doutrina é contrária à nossa fé, pois nega a redenção de Cristo, que, pela sua morte na Cruz, nos redimiu de nossos pecados. Esta doutrina ensina que a purificação acontece pela reencarnação em outras pessoas e em outras vidas. .
O que nos ensina a Sagrada Escritura e qual é nossa fé?
Uma primeira resposta a encontramos na 2ª leitura, na Carta aos Tessalonicenses. Não é ainda uma resposta sobre a vida eterna. É uma advertência a respeito desta vida, que devemos viver na esperança de uma vida nova e mais feliz, mas sem deixar de fazer algo para merecer uma felicidade sem fim. São Paulo lembra que a “feliz esperança” da consolação eterna deve “confirmar em toda boa ação e palavra”.
A segunda resposta da Palavra de Deus nos vem da 1ª leitura e do Evangelho. Trata-se de duas profissões de fé na ressurreição após a morte.
A primeira leitura, um texto do Segundo Livro dos Macabeus, nos fala da fé na ressurreição que deu força e coragem aos sete irmãos e sua mãe, quando eram torturados para abandonar sua religião. E, também, a fé na ressurreição lhes deu a incrível coragem de sacrificar a própria vida. “É uma sorte desejável perecer pela mão humana com a esperança de que Deus nos ressuscite” (2Mc 7,14). A mesma fé e coragem encontramos nos cristãos que aceitaram o martírio, não deixando se dobrar pelas exigências do imperador romano de prestar culto aos ídolos.
O Evangelho também afirma a fé na ressurreição, mas o contexto é diferente. Os saduceus, classe intelectual dos sacerdotes, fazem a Jesus uma pergunta, contando uma história um tanto grotesca e inspirada por certa malícia. Contam um caso de uma mulher que, cada vez que ficava viúva sem filhos, se casa de novo. Depois da sétima vez, finalmente, a mulher também morreu. E então? Se é que existe ressurreição, ela vai ter sete maridos “do lado de lá”. Mas isso é um absurdo! A Torá (livro da Lei de Moisés) jamais ensinaria isso! Portanto, para os saduceus, não pode existir ressurreição, o mundo sobrenatural para eles não existe. E o que Jesus está ensinando, não faz nenhum sentido.
A resposta de Jesus é muito clara, objetiva e direta: “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele” (Lc 27,38). A expressão “todos vivem para ele” é uma afirmação clara e concreta do que se entende por “ressurreição”: ressuscitar é viver unicamente em Deus. Portanto, a morte não pode matar definitivamente pessoas como Abraão, Isaac e Jacó que tiveram suas vidas guardadas junto do Deus em quem sempre acreditaram.
O Evangelho de hoje esclarece que a ressurreição não é simplesmente retornar à vida como ela é aqui, neste mundo e não pode ser considerada uma simples revivificação de um cadáver. A vida ressuscitada é de outra ordem.
Como será? A nossa curiosidade desejaria conhecer um pouco mais sobre a vida depois da morte. A resposta de Jesus –“Serão como os anjos e não poderão morrer. Serão filhos de Deus porque ressuscitaram (Lc 27,36).
Isso não esclarece muito, porque nós não conhecemos a vida dos anjos. Há, porém, uma afirmação importante: “Serão filhos de Deus porque ressuscitaram”
Esta é a nossa fé, que desde o dia do Batismo professamos quando dizemos: “Creio na ressurreição da carne e na vida eterna”.
Para concluir, gostaria de lembrar que existem consequências da fé na ressurreição dos mortos; na ressurreição da carne, pois, a vida eterna começa aqui e agora. No dia de nossa ressurreição, a vida que vivemos hoje não é tirada, mas transformada. Quem vive com Deus neste mundo viverá com Ele eternamente. Quem tem Cristo na sua vida, vai tê-lo na outra vida.
Pergunto: Como estou vivendo minha fé na ressurreição? Não é por demais teórica? E mais: quando estamos, firmemente, convencidos da vida futura, por que não nos preparamos melhor para ela? Para o exercício de qualquer profissão há um período de preparação. E nós que estamos peregrinando para o encontro definitivo com Deus? Nosso Batismo nos fez futuros cidadãos do céu. Mas, vivemos seriamente nosso Batismo?
No momento do encontro final com Deus, de nada vale o dinheiro, o sucesso, o prestígio, a beleza, a fama etc. Porém, o que conta são nossas boas obras e a retidão do agir. Levaremos em nossa bagagem, o bem que realizamos ao longo da vida. Sobretudo para os mais pobres. Pois, assim nos diz a divina sentença: “Vinde, benditos do meu Pai, recebei por herança o reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois estive com fome e me deste de comer. Tive sede e me deste de beber. Estive nu e me vestiste” (Mt 25,34).
Esta passagem bíblica nos revela que o critério para o nosso julgamento, será o exercício do amor e da caridade para com o próximo, sobretudo, os excluídos que são os mais pobres dentre os pobres.
Portanto, quem vive no amor e na harmonia com seus irmãos, continuará na outra vida na plenitude do amor. Por isso, a hora de amar, de perdoar, de servir, de espalhar o bem é agora. Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje! Pois, o amanhã pode não acontecer!
Frei Gunther Max Walzer