Homilia - 01/12/2019 - Primeiro Domingo do Advento
Iniciamos com esta celebração um Novo Ano Litúrgico. É a ocasião para desejarmos “Feliz Ano Novo em Cristo”. O novo início é marcado pela cor roxa na celebração, símbolo da espera ansiosa e penitente. Com o advento a vinda de Jesus se torna próxima.
A coroa do advento simboliza a atitude de espera, acendendo a cada semana uma das quatro velas, é a luz que ilumina a caminhada cristã. Hoje, acendemos a primeira vela; ela nos lembra a percebermos, em nossa vida, os sinais das manifestações de Deus e também a enxergarmos o que nos afasta de seu caminho e exige de nós conversão.
Durante o tempo de Advento, cuidemos de estar vigilantes: preparados para acolher o Senhor, disponíveis ao chamado e prontos para responder a seus desafios.
É fácil perceber, que nas leituras não existe nenhum tema relacionado ao Natal, porque o objetivo desta celebração de hoje é anunciar a plenitude da Salvação divina, quando Jesus voltar, em sua segunda vinda.
Por isso, as leituras falam da importância da vigilância em nossas vidas. Fazem, igualmente, um questionamento: como será o encontro definitivo com o Senhor?
Isaias, na primeira leitura, fala do final de um tempo; de um tempo sem a presença da luz divina. Um tempo que termina para dar lugar a outro tempo, iluminado por novos relacionamentos, fundamentados na paz, a ponto de que a única destruição será aquela das armas promotoras da morte. Serão destruídas para serem transformadas em arados; tanques de guerra que se transformarão em tratores para produzir alimento e partilhar a paz. Isaias não fala de destruição, mas de um olhar diferente da realidade para que a paz, o grande dom messiânico, aconteça entre nós.
São Paulo, na segunda leitura, nos dá algumas orientações para avaliarmos nosso modo de viver: viver de modo honesto, sendo transparentes no que fazemos, como em pleno dia, sem esconder nada. Paulo orienta também a fugir de festanças, de bebedeiras, de orgias e de imoralidades, evitar as brigas e viver em paz com todos. O melhor modo para que isso aconteça conosco é revestindo-nos de Jesus Cristo, assumindo o modo de vida de Cristo: digno, como quem anda de dia, guiado pelo Espírito.
O Evangelho nos fala da vinda do Messias no cotidiano, numa hora comum, sem aviso prévio. O que as pessoas faziam no tempo de Noé não era excesso nem era errado. Não se pode condenar ninguém por comer e beber, nem por casar-se. São coisas do cotidiano de uma vida normal. É nesse cotidiano que acontece o “de repente”, o inesperado, aquilo que rompe o curso normal das coisas. Mulheres e homens trabalhando são imagens claras dessa cotidianidade, dessa normalidade da vida, na qual irrompe o novo, o que faz a diferença.
A imagem do ladrão que chega de repente, sem avisar, conclui e reforça a ideia da irrupção desse “novo”, de forma irreversível: não adianta querer se proteger depois que o ladrão entrou em casa. O jeito é prevenir-se antes. A decisão é agora! Não deve ser adiada para depois, porque pode ser tarde demais!.
Isso nos leva à ideia central do Advento: vigiar, estar preparado para a vinda do Senhor, que acontece no nosso dia-a-dia, realizando agora, no presente, aquelas ações que nos deixam prontos para um encontro “a qualquer hora”. Não podemos pensar apenas no “último dia”, no fim dos tempos, no Juízo Final temos de nos preocupar com esse momento agora. É no cotidiano da gente que essa preparação acontece. Se queremos chegar num futuro melhor de paz, de harmonia, de luz, temos de começar agora a caminhar, transformando as espadas e lanças (instrumentos de guerra, símbolos de violência e da morte) em arados e foices (instrumentos de trabalho, de produção, símbolos de vida).
O Advento não é um convite a simplesmente “parar” e refletir, avaliando o ano e fazendo um revisão de vida. Ao contrário, o Advento no quer pôr a caminho atentos ao chão que pisamos. A criança que vai nascer nos leva a mexer em algumas coisas para criar espaço dentro e fora de nós para acolher o novo. Algumas coisas velhas talvez terão quer ser dispensadas, enquanto outras novas, com certeza, terão que ser adquiridas.
Em cada tempo, o convite se faz para o “hoje” de cada um: Isaías para o povo de Judá exilado na Babilônia; Jesus para os seus contemporâneos, dominados pelos romanos; Paulo, para os cristãos de Roma, acusados pelo Império; e nós, hoje, neste mundo tão carente de paz e solidariedade. Em todos esses tempos, o convite para estarmos sempre com os olhos voltados para o futuro, para a frente, para o que virá. Precisamos unir com sabedoria estas duas dimensões do Advento: o cotidiano, o hoje, o aqui e agora, de um lado, e o depois, o ainda não, o amanha, de outro.
Advento é perceber a situação e os problemas à nossa volta e, olhando o futuro, assumir atitudes responsáveis e ações concretas.
Advento é ser “vigilante”, é “esperar caminhando”.
Frei Gunther Max Walzer