Homilia - 21/06/2020 - XII Domingo do Tempo Comum
Ainda estou para encontrar uma pessoa que nunca sentiu o menor lampejo momentâneo de medo em sua vida. Vivemos um tempo em que, facilmente, nos encontramos amedrontados ou convivemos com pessoas que manifestam seus medos.
O medo não surgiu apenas com a pandemia, o medo é uma característica da nossa época: medo da violência, medo do desemprego, medo de doença, medo da morte. Medo arraigado na própria história da vida e de dar passos errados na estrada da vida.
O texto do Evangelho fala, três vezes em seguida, que não precisamos ter medo. Deus está conosco.
O Evangelho fala do medo da perseguição e isolação que os anunciadores da Boa Nova podem esperar, mas que não os pode levar ao desânimo. Este texto do Evangelho reflete a situação das primeiras comunidades cristãs que sofriam grandes perseguições, além de conflitos entre parentes, criando divisão por causa da sua opção pelo Reino. Jesus diz que os discípulos não estão acima do Mestre. “Quem não pega a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mt,10,38).
Vejamos um aspecto dramático na missão dos doze discípulos. O grupo é pequeno e a missão é enorme: “curar toda espécie de enfermidades”. Nesta missão não se deve receber nada em troca e nem levar nada consigo. E, além disso, são como ovelhas, enviados a enfrentar lobos ferozes. Quase não é possível imaginar um quadro mais adverso. Mas a força dos discípulos de Jesus está na confiança inabalável na sua palavra. Jesus lhes diz por três vezes: “Não tenham medo” (Mt 10, 26,28,31).
Não ter medo de perseguições, sofrimentos, tribulações e morte. No entanto, os apóstolos estavam enfrentando uma situação difícil que os colocava num verdadeiro dilema: a quem temer? A Deus, a cujo serviço se tinham posto, obedecendo ao mandato recebido de Jesus, ou aos adversários, que tentavam tirar-lhes a vida? Que fazer: seguir em frente, buscando ser fiel a Deus ou fugir da missão e acomodar-se, pressionados pela violência dos inimigos?
A resposta de Jesus é bem pragmática. O máximo que os perseguidores podem fazer é tirar a vida física dos apóstolos. Mas, perigo maior seria perder a vida eterna. Isto pode acontecer a quem se mostra infiel a Deus. A ação dos adversários atinge o corpo, ao passo que a ação de Deus toca no mais profundo da existência humana – a alma. Logo, o discípulo deve discernir bem a quem deverá temer.
Jesus encorajou os apóstolos a confiarem na Providência divina. Nada ficará perdido ou esquecido diante do Pai. Ele vê as lágrimas, o sangue e até o cabelo que cai. Ele está sempre presente. Sua vida está nas mãos do Pai.
“Segura na mão de Deus”, assim cantamos. Jesus nos coloca no mesmo dilema dos apóstolos. Como não ter medo, como confiar na providência divina se a vida é parecida a um filme de terror. Não estou falando só do novo Coronavírus. É claro que temos de ser cautelosos em relação a ele também, tomando as precauções necessárias. O futuro é sombrio em diversos apectos, e muitas pessoas perderam a esperança. O foco é um só: não morrer. A vida perdeu o brilho porque vemos fome, pobreza, desemprego, muita violência, tristeza. Milhões batalhando apenas para sobreviver.
Hoje, Jesus nos diz confiar na Providência divina, nos colocar nas mãos de Deus. Precisamos das mãos de Deus e das mãos de irmãos e irmãs que mostrem que o poder da esperança é o começo da nossa ressurreição.
“Não tenham medo”. Com estas palavras Jesus trazia conforto à sua comunidade. Haverá perseguições, dificuldades, incompreensões e sofrimento que podem gerar medo. Mas Jesus garantiu sua presença que os consola e apoia.
E nós que sofremos as consequências de uma pandemia, gerando medo no mundo inteiro e em nosso país? O medo assombra as pessoas! É o medo do contágio do Coronavírus, diante do qual a ciência com todos os meios disponíveis procura encontrar medicamentos e uma vacina. Mas, por enquanto, não pode impedir sua propagação e seu contágio nem suas consequências. E isto já conseguiu gerar o vírus do medo.
Quando a ciência vai encontrar a vacina?
“Tudo o que está coberto vai ser descoberto; e tudo o que está escondido será conhecido” (Mt 10,26). Jesus nos consola com suas palavras. Tudo será descoberto, nada ficará escondido. Ele chama-nos a não ter medo porque tudo aquilo que hoje se realiza na escuridão será conhecido.
Meditemos uma vez mais a mensagem do papa Francisco no domingo de Ramos: “Hoje, no drama da pandemia, diante de tantas certezas que desmoronaram, diante de tantas expectativas traídas, no sentimento de abandono que nos aperta o coração, Jesus diz a cada um: ‘Coragem, abra o seu coração ao meu amor. Você sentirá a consolação de Deus que o sustenta. O drama que estamos atravessando neste tempo nos impulsiona a levar a sério aquilo que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouca importância; a redescobrir que a vida não serve se não se serve. Porque a vida é medida pelo amor”.
Jesus nos convida uma vez mais a escutar novamente suas palavras e não deixar que o medo condicione nosso agir, mas, pelo contrário, colocar nossa confiança nele que está no meio de nós!
Como diz Francisco: “Não tenham medo de gastar a vida por Deus e pelos outros”.
O poder da esperança tira todos os medos e nos vai salvar. Assim a nossa quarentena pode se tornar um dom, o começo de um tempo novo e uma oportunidade para o começo de uma vida nova.
Para que a esperança vença nossos medos existe um caminho: recuperar a intimidade e a confiança em Deus.
Frei Gunther Max Walzer