Homilia - 12/07/2020 - XV Domingo do Tempo Comum
Ao olhar nossas famílias fico maravilhado com a grande diversidade e me pergunto: como pode ser que os filhos de um mesmo casal, tendo tido a mesma educação, sejam tão diferentes uns dos outros? Alguns pais chegam a dizer que assim como os dedos da mão, os filhos foram igualmente amados e receberam os mesmos cuidados e atenção. No entanto, a diversidade existe: alguns filhos são mais agitados que outros, alguns mais carinhosos e atenciosos e alguns mais problemáticos também... Seja como for, fica claro que o “terreno” em que se plantou a mesma educação, não é o mesmo. Pais e educadores sabem que o dever deles é semear. Os frutos dependerão de outros fatores: da resposta do filho ou do aluno, das circunstancias externas, das oportunidades maiores ou menores que eles encontram pela frente na vida.
Conta-se que Deus tem uma loja onde podem ser encontrados todos os dons ou presentes que alguém gostaria de ganhar: beleza, felicidade, inteligência, bom humor, gentileza, solidariedade, alegria, paz... Mas tudo isso está em forma de sementes. Deus não entrega tudo pronto. Só confia sementes para serem plantadas e cultivadas.
No evangelho de hoje encontramos Jesus explicando o Reino de Deus por meio de parábolas. No texto, Jesus aproveitou um exemplo do agricultor que lançava as sementes no campo e depois passava o arado, retirava a terra e cobria as sementes. Um observador superficial podia pensar que muitas sementes iam se perder. De fato, algumas caiam no caminho, na terra batida, e não conseguiam “pegar”. Outras caíram onde havia muitas pedras, e também teriam dificuldade em vingar. Outras acabariam sufocadas por outras ervas ou espinhos. Mas, afinal, diz Jesus, o semeador não é bobo. Sabe que a maior parte das sementes vai encontrar terra boa e vai dar fruto: 30, 60, 100 vezes mais! Este é o desfecho da parábola: É o terreno que define o futuro das sementes.
A parábola nos provoca a tomar uma atitude. Faça como o agricultor: olhe para frente, olhe para o futuro! Olhe para a colheita que, com certeza, poderá ser abundante. Seja um terreno fértil e receptivo que faz germinar a semente lançada pelo Mestre.
Em seguida o texto parece ter um “ambiente” novo: “Os discípulos chegaram perto de Jesus e perguntaram: — Por que é que o senhor usa parábolas para falar com essas pessoas? (Mt 13,10).
Agora Jesus já não fala às multidões mas aos discípulos. Jesus fica devendo uma resposta, não explicava suas parábolas. Perderiam a graça. Ele queria que as pessoas descobrissem a comparação que ele fazia e elas mesmas chegassem à conclusão que Jesus sugeria: é mesmo assim! A semente não deixará de dar muito fruto.
Não deu?! As sementes caídas em terra boa produzem muitos frutos. Quem conhece a potencialidade de cada um de nós? Só mesmo o Pai! Mas precisamos estimular as pessoas a dar o melhor de si. A experiência mostra que funciona melhor um elogio do que uma censura pelo que ficou faltando.
“Jesus terminou, dizendo: “Se vocês têm ouvidos para ouvir, então ouçam” (Mt 13,9).
Quem é que “vendo não vê e ouvindo não ouve? Podemos criar vários mecanismos de anestesia em nossa percepção. Vemos e ouvimos o que nos interessa – ignoramos o resto. O evangelho cita um trecho de Isaías, no qual se diz que quem tem coração endurecido é que não vê e não ouve. Não é que sejam cegos ou surdos fisicamente: fecharam os olhos e taparam os ouvidos.
É preciso estar sempre aberto para ouvir a Palavra de Deus e transformar o que ouvimos em vida por meio de atitudes.
Nas parábolas, especialmente na da semente lançada, Jesus nos faz a proposta do Reinado de Deus. Antes que rotular as pessoas com os diversos tipos de terreno, devemos zelar pela qualidade da nossa resposta, não só melhorando a nossa semente, ou seja, apresentando algo cada vez melhor à sociedade, mas também oferecendo-nos para retirar as pedras e os espinhos dos terrenos, sempre lembrando que esses terrenos são os outros e nós também.
Evitemos, pois, cair na tentação de só ver os defeitos no campo alheio. Ao contrário, vamos estimular a todos para que cada um dê o máximo de si. Dessa forma, não perderemos o que já conseguimos com nossa experiência, acolhendo e somando sempre mais sementes. Mas não para guardarmos para nós mesmos, e sim para semeá-las nos corações, fazendo crescer o Reino de Deus!
E sempre nos lembremos das palavras de Jesus: há gente que “vendo não vê e ouvindo não ouve”. Podemos compreender também que a quantidade de frutos pode variar segundo as circunstâncias, as dificuldades encontradas, o estado de espírito do momento, mesmo agora no isolamento da pandemia.
Tudo isto se passa hoje. Não desesperemos ao ver pessoas permanecerem insensíveis ao anúncio do Cristo, e até mesmo desprezá-lo ou contestá-lo: já estava previsto. E aqui estamos, um pequeno número, conforme a qualidade dos "terrenos", cheios de pedras e de espinhos, mal carpidos ou prontos para dar frutos. Tudo depende de uma escolha pessoal, mesmo sementes e valores herdados numa mesma família.
Assim como os ouvintes da "grande multidão" que se reuniu em torno de Jesus, muitos de nós, terminada a leitura, irão fechar o Novo Testamento e, terminada a quarentena, irão entregar-se às suas ocupações habituais voltando à antiga “normalidade”.
Para estes, Jesus terá falado em vão: a Palavra Semente não produzirá nem cem, nem sessenta, nem trinta por uma. Devemos compreender que Cristo se dirige a cada um de nós e que temos de perguntar: somos que tipo de terreno? E que fruto, até aqui, a sua palavra tem dado em nós?
Frei Gunther Max Walzer