Homilia - 23/08/2020 - XXI Domingo do Tempo Comum
Quem é Jesus para você?
Por todos os lados se fala o nome de Jesus. Seu nome está nas músicas, estampado nas camisetas de muitos jovens e adultos. O crucifixo, principal símbolo que nos lembra de Jesus, está em toda parte: repartições públicas, hospitais, bancos, escritórios de empresas, dentro dos veículos, nas casas; muita gente o carrega pendurado no pescoço... Será que sua presença influencia a vida, o trabalho e as opções das pessoas que o veem nesses lugares e o levam consigo?
O Evangelho de hoje nos convida a refletir sobre a nossa profissão de fé em Jesus. Se formos sinceros, Jesus é um “ilustre” desconhecido. Também nós, como os apóstolos dois mil anos atrás, ouvimos falar com frequência de Jesus e as opiniões que encontramos sobre Ele são variadas, como as que ouvimos no Evangelho. No concreto de nossas vidas, quem é Jesus para nós?
No episódio narrado no texto do Evangelho de hoje, Jesus mesmo pergunta: — Quem o povo diz que o Filho do Homem é? Já haviam acontecido muitas coisas. Jesus pregava o amor do Pai, fazia muitos milagres, colocava-se ao lado dos pobres e marginalizados, inclusive dos pecadores. Seu modo de agir não correspondia a certos esquemas religiosos daquele tempo. Isso dividiu muito as opiniões do povo sobre Jesus.
Muitos comentavam que “nunca se viu coisa igual”, tal era a extraordinária maneira com que Jesus se apresentava. Pelo povo, com exceção dos fariseus e saduceus, Jesus foi colocado ao lado das grandes figuras do passado, sendo comparado aos grandes profetas, como Elias e Jeremias. Alguns até achavam que ele era o próprio Elias que havia voltado, como se esperava naquele tempo. Outros diziam que Jesus deveria ser João Batista, que foi degolado pelo rei Herodes fazia pouco tempo e havia voltado dos mortos.
Já os nossos contemporâneos o colocariam em série junto com Buda, Maomé ou grandes filósofos.
Das duas perguntas feitas por Jesus no Evangelho de hoje, a segunda é muito importante: “E vocês? Quem vocês dizem que eu sou?”
Então Pedro tomou a palavra e respondeu em nome dos apóstolos: “O senhor é o Messias, o Filho do Deus vivo”.
Jesus afirma que a confissão de fé de Pedro não é revelação humana, não é fruto de considerações e experiências humanas. Por vontade de Deus, Pedro teve acesso a tal revelação, e por isso Jesus, constatando a ação do Pai, o chama “feliz”.
Em resposta a essa fé manifestada por Pedro, Jesus diz: “Eu lhe digo: você é Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e nem o poder do mal poderá vencê-la. Eu lhe darei as chaves do Reino do Céu; o que você desligar na terra será desligado no céu, e o que ligar na terra será ligado no céu” (Mt 16,18-19).
Confiar as chaves a alguém é dar-lhe plenos poderes. Em que sentido devemos entender essas palavras hoje?
Ao dar as chaves dos céus a Pedro, Jesus quer que ele seja o primeiro a responder pela Igreja, seja o primeiro a servir os cristãos, seja o primeiro a confirmar os irmãos na fé, seja o centro visível de união da Igreja.
No entanto, vemos as comunidades cristãs divididas entre si. Esta divisão é causada, com certeza, pelos pecados dos homens, e não pela palavra de Jesus.
Para reconstruir a unidade não podemos exigir que sejam os outros que se convertam a nós; devemos conscientizar-nos que todos nos devemos converter a Cristo e à sua Palavra.
Os irmãos protestantes reconhecerão, então, que Jesus de fato conferiu a Pedro uma missão particular a serviço dos irmãos.
Mas, também, nós católicos devemos nos converter. Deveremos abandonar tudo aquilo que não é evangélico no nosso modo de interpretar o ministério do Papa e a autoridade na Igreja.
Deveremos nos adaptar, sobretudo, àquilo que Jesus repetiu muitas vezes e com tanta clareza: “O primeiro entre vós seja como o mais pequenino e quem governa, como aquele que serve” (Lc 22,26).
Provavelmente, a expressão mais perfeita para definir o ministério do Papa, continua sendo aquela de um famoso bispo da Igreja dos primeiros séculos, Irineu de Leão, que definia o Bispo de Roma: “aquele que preside a caridade”.
Mas voltando ao texto, vemos que Jesus faz a pergunta: “E vocês, quem dizem que eu sou?”.
A pergunta que Jesus faz aos seus discípulos, também, faz a nós: E para você? Quem é Jesus?
Não é fácil responder com sinceridade à pergunta de Jesus. Na realidade, quem é Jesus para nós? Sua pessoa chega até nós após vinte séculos através de imagens, fórmulas, devoções, experiências, interpretações culturais... Além disso, cada um de nós foi revestindo Jesus com o que somos nós mesmos. Assim projetamos nele nossos desejos, aspirações, interesses e limitações. E quase sem nos darmos conta, o diminuímos e desfiguramos o mistério do Filho de Deus.
Qual é a nossa resposta? Jesus não espera uma resposta de palavras, da boca para fora ou de palavras decoradas do catecismo. Trata-se de fazermos de Jesus o nosso Deus vivo. Jesus continua vivo! Não permite que o disfarcemos. Não se deixa etiquetar nem se reduzir a uns ritos, umas fórmulas ou uns costumes e festas tradicionais. Temos muitos “cristãos” fabricados a gosto do freguês que não passariam no teste do confronto com a vida de Jesus.
Jesus espera de nós uma profissão de fé. Fé e vida são inseparáveis. O rosto de Cristo tem sempre um rosto humano de um Deus que não somente está interessado com os problemas da gente, mas veio viver pessoalmente os nossos problemas. Participar de uma missa bonita e levar a vida lá fora de qualquer jeito, isso já era para quem sabe que fé e vida não se encontram só no final de semana. Não basta dizer que cremos em Jesus.
A resposta deve ser prática, brotar do chão da vida. Nossa vida é a que tem que dizer quem é Jesus Cristo para nós. “Que diz tua vida de mim?”
Portanto, a verdadeira pergunta é: “Quem é Jesus Cristo em nossa vida?”
Frei Gunther Max Walzer