Homilia - 27/09/2020 - XXVI Domingo do Tempo Comum
No início de uma palestra há o costume de apresentar as pessoas falando de suas origens, de seu currículo, da sua profissão, de seus títulos... mas para conhecer alguém de verdade é preciso conviver, aí é possível ter incríveis surpresas: podemos descobrir, por exemplo, que a faxineira analfabeta tem sabedoria de vida para dar e vender, que o doutor formado na universidade não sabe se expressar com clareza, que aquele jovem aparentemente desligado tem interesses culturais, que o filho daquele nosso amigo tão honesto é um trapeceiro... e por aí vai.
Quem de nós nunca fez julgamentos sobre pessoas, mais tarde percebemos nosso erro. Dizemos com facilidade: fulano é assim. Na verdade, ninguém é sempre, necessariamente, deste ou daquele jeito. Pessoas mudam. Quem um dia errou pode mudar e passará a ser considerado honesto e pessoa de confiança.
A narrativa do Evangelho de hoje começa com uma pergunta: “O que vocês acham disto?”. Jesus dá seu recado numa parábola bem fácil e direta. Ele conta uma parábola de um pai que é dono de uma vinha e pai de dois filhos. O pai oferece-lhes trabalho na sua vinha. O primeiro filho disse que não ia trabalhar e foi e o outro disse que ia, mas não foi. Jesus finaliza sua narrativa com outra pergunta: “Qual dos dois fez a vontade do pai?”.
O que esta parábola nos quer ensinar? Deus olha o interior das pessoas e não as atitudes externas ou as aparências.
Jesus está ensinando que o filho que honra o pai não é quem cumpre os ritos externos, mas quem faz sua vontade. O amor deve ser manifestado com atitudes concretas que expressam o que há no interior da pessoa. Jesus ensina que o importante não são as palavras, mas levar uma vida de acordo com elas.
É bom lembrar para quem Jesus estava falando. Jesus estava falando às autoridades religiosas judaicas, à “elite” espiritual daquele tempo. Eles se consideravam meio “donos” da Aliança e da tradição. Classificavam as pessoas como puras ou impuras por motivo de culto, de raça, até de saúde. Achavam-se os “bons filhos” do Pai celeste – e faziam sempre excelentes discursos para se justificar. Com a história dos dois filhos Jesus sugere que há outros, que não estão muito próximos de Deus fazendo a vontade do Pai.
Para coroar a conversa, Jesus faz uma afirmação que até hoje muita gente na Igreja ouve com certo mal estar. Ele diz aos que se consideravam perfeitos e santos: “Os cobradores de impostos e as prostitutas estão entrando no Reino de Deus antes de vocês”. Dá para imaginar o escândalo! Publicanos eram considerados traidores da pátria porque cobravam impostos para os invasores romanos. Das prostitutas nem é preciso falar.
O que podia ver Jesus naqueles homens e mulheres desprezados por todos? Talvez sua humilhação. Talvez um coração mais aberto a Deus e mais necessitado do seu perdão. Quem sabe uma compreensão e uma proximidade maior com os últimos da sociedade. Talvez viu neles menos orgulho e prepotência que a dos escribas e sumos sacerdotes.
Mas, deixemos de olhar para os outros, olhemos para nós mesmos.
Será que nós somos transparentes e autênticos? Quais são fobias, neuroses, nossos vícios não confessados? Jesus percebe que as prostitutas e os cobradores do seu tempo são o que são. Eles não podiam enganar a ninguém. Não havia uma forma de dissimular o que eles realmente eram. E a lição que nos fica é que apenas as pessoas verdadeiras e autênticas participarão do Reino de Deus.
Procuremos ser cristãos verdadeiros! Vivamos com autenticidade nossa fé na vida diária! Não somos cristãos sem falhas e perfeitos (somos Igreja santa e pecadora), mas procuremos transmitir aos filhos e às pessoas do nosso convívio os verdadeiros valores cristãos: honestidade, justiça, fraternidade, solidariedade. No meio de um mundo de tanta corrupção, mentira e falsidade, demos um testemunho verdadeiro não só com palavras mas com atos concretos!
Frei Gunther Max Walzer