Homilia - 22/11/2020 - Jesus Cristo, Rei do Universo
Este domingo é o último domingo do ano litúrgico e, hoje, celebramos a solenidade do Senhor Jesus como Rei do Universo. Sempre quando terminamos uma atividade ou etapa, costumamos fazer uma avaliação. Em geral, mede-se uma atividade pelo resultado ou crescimento econômico: o PIB, as exportações, a colheita, a compra de um imóvel ou a troca de carro.
Nossa avaliação no fim do ano litúrgico é diferente: como fizemos a nossa caminhada junto com Cristo, o Filho de Deus neste ano? Assumimos o Evangelho a partir dos seus ensinamentos, tornando-o Senhor e Rei de nossa vida e, por isso, de todo o universo? Sobre o que seremos julgados quando ele vier em sua glória?
Como nos domingos anteriores, a temática deste domingo é a segunda vinda do Senhor e, hoje, de forma definitiva como juiz. Ele virá em sua glória, revestido de todo o poder que lhe foi dado no céu e sobre a terra, assim como dizemos no “Credo”: “Ele há de vir a julgar os vivos e os mortos”.
No Evangelho de hoje, Jesus se apresenta como pastor que “colocará os bons à sua direita e os outros, à esquerda” (Mt 25,33).
Embora o Evangelho se refira ao julgamento universal, não devemos esquecer que cada um de nós terá um julgamento pessoal. Ninguém consegue escapar dele. Ninguém de nós precisa entregar o passaporte para não poder fugir, nem a Interpol vai precisar nos procurar.
Ouvindo a parábola do juízo final, logo nos perguntamos “quem vai se salvar?”.
Certamente, todos nós temos a tentação de olharmos para as pessoas que conhecemos, principalmente, as da nossa comunidade, e já vamos apontando o dedo e dizer que essa aí não vai ouvir as palavras: “Vinde, benditos do meu Pai”. Mas, provavelmente, temos que fazer um esforço para enumerar nossas boas obras que nos dão a garantia de pertencer ao grupo de pessoas que se salvam. Essa postura não é um tanto hipócrita?
Usamos muito, em nossos relacionamentos, a palavra “amor”. Com essa bela linguagem do amor, muitas vezes podemos esconder a verdadeira mensagem de Jesus que é muito mais direta, simples e concreta.
Não podemos comparar ou confundir o julgamento final com um tribunal onde são julgadas as pessoas, mas o “Tribunal de Cristo” é um julgamento das obras relacionadas com Cristo que “está no meio de nós”.
E, faremos a pergunta: “Quando foi que te vimos?”
Jesus não deu como critério do julgamento a igreja ou o grupo religioso que as pessoas frequentavam.
Jesus nos mostra que a salvação não depende do número de missas, retiros ou procissões que frequentamos. O Senhor não nos perguntará no dia do julgamento final se procuramos cumprir os preceitos religiosos e mandamentos, mas sim se fomos capazes de viver a solidariedade e a fraternidade.
Não basta tampouco sentimentos bonitos nem protestos estéreis. O importante é ajudar a quem nos necessita.
No final, portanto, não seremos julgados de maneira geral pelo amor, mas por algo muito mais concreto: o que fizemos quando encontramos alguém que precisava de nós? Como reagimos aos problemas e sofrimentos de pessoas concretas que fomos encontrando no nosso caminho?
O que Jesus disse ao grupo das pessoas condenadas?
“Eu estava perto de você, mas você não quis se aproximar”.
“Eu estava perto de você, mas você fugiu de mim”.
“Eu clamei e você fez de conta que não ouviu”.
“Eu precisava de ajuda e você deu as costas”.
Alguém escreveu o seguinte texto: “Eu estava faminto - e você formou um grupo para discutir a causa da fome.
Eu estava preso – e você se retirou para a capela e orou por minha libertação.
Eu estava nu – e você debateu a moralidade da minha aparência.
Eu estava doente – e você se ajoelhou e agradeceu a Deus pela sua saúde.
Você parece estar tão perto de Deus; - mas eu ainda estou com muita fome, sozinho e abandonado”.
Aquilo que, às vezes, a gente valoriza tanto, a doutrina certa, a liturgia bonita, a prática certa, etc... Jesus não tocou em nada disso na sua fala sobre o juízo final.
O que é difícil, às vezes, são as coisas do dia a dia. O que a gente faz fora da reunião da igreja. São as coisas que acontecem em casa, na rua, no trabalho que, muitas vezes, revelam a presença de Jesus e suas necessidades.
O que chamou a minha atenção nesta passagem do Evangelho foi, justamente, o fato que ninguém reconheceu Jesus no meio da multidão.
Ninguém viu Jesus no rosto do morador de rua, do estrangeiro, do desabrigado, do doente, do idoso.
Ninguém viu Jesus; mas, ele estava lá. “Ele está no meio de nós”.
Ajudando o homem com fome, a família desabrigada, o homem preso, o desempregado, é como se a gente estivesse ajudando Jesus.
É lá que Jesus está.
Você pode não convidar uma destas pessoas para jantar em sua casa, mas com um quilo de arroz e feijão você pode assegurar que Jesus terá a sua janta hoje.
Com um cobertor ou uma camisa e calça que você não usa mais você pode vestir o próprio Rei.
Com uma visita ao hospital ou um telefonema você pode garantir que o Senhor se sinta amado esta semana.
Quantas pessoas ao nosso redor e no isolamento neste período difícil do corona-vírus precisam de ajuda. Se temos olhos para ver, lá está Jesus.
O problema nosso não é o de não ver, mas o de reconhecer.
A coisa mais difícil é enxergar Jesus. E Ele está aqui. Mas, nós não o vemos.
É difícil mesmo reconhecer Jesus numa pessoa suja, doente ou num mendigo.
Sim, os pobres e excluídos, os doentes ou com deficiência não agradam a nossa vista. Estas pessoas nos incomodam.
É por isso que é difícil reconhecer Jesus que “está no meio de nós”.
Este é o nosso Rei, um rei que pede esmola. Que tipo de esmola?
Nestes tempos difíceis da pandemia, tempo de isolamento e quarentena, podemos correr o risco de desperdiçarmos a vida pensando somente em nós mesmos, com certa postura de indiferença.
A parábola de Jesus obriga-nos a fazer perguntas muito concretas: Vou fazer algo por alguém? É tempo de preparação de Natal, tempo das festas. Muitas pessoas se perguntam: “O que posso comprar, que presente vou dar? Para ser como Jesus que se deu a si mesmo aos outros e até nasceu naquele presépio miserável, a pergunta certa seria: Vou fazer algo por alguém? A que pessoas posso eu prestar ajuda? O que faço eu para que reine um pouco mais de justiça, solidariedade e amizade entre nós? Que mais poderia fazer?
Ninguém viu Jesus; mas ele estava lá.
Frei Gunther Max Walzer