Homilia - 14/02/2021 - VI Domingo do Tempo Comum
Como no domingo passado, o texto do Evangelho coloca-nos em contato com o sofrimento humano. Neste tempo de pandemia do covid-19, como sempre na nossa vida, o sofrimento continua inexplicável. Por que sofremos? Por que os inocentes sofrem? O que mais nos faz sofrer é o distanciamento social e, principalmente para os idosos, o sofrimento é maior, quando se sentem abandonados. O distanciamento traz consigo grande perigo do abandono, pode levar a uma atitude de desistir do outro, parar de se importar com ele e que ele “se vire”, seja lá como for: na doença ou neste período desolador da pandemia, mas também em outras ocasiões, nos vícios, na miséria, na solidão. Tentando justifica uma atitude de abandono, diversos motivos são alegados, ou simplesmente se diz: “só dá trabalho”.
Deus, felizmente, não conhece isolamento e distanciamento social. O relato da cura no Evangelho nos apresenta Jesus recuperando para o convívio social alguém que tinha sido afastado por ser considerado impuro. A condição do enfermo era dolorosa, pois a mentalidade antiga condicionava os leprosos ao sentimento de impureza diante de Deus e da sociedade.
O texto deixa bem claro que a iniciativa foi do leproso. É ele que reconhecendo o poder de Jesus, teve coragem de se aproximar dele e pede que seja curado. “Senhor, eu sei que o senhor pode me curar se quiser” (Mc 1,40).
Poderíamos perguntar: “Será que Deus não sabia que esse homem precisava ser curado?”. De fato, Deus conhece nossas necessidades, mas ele quer contar com a nossa participação ativa na obra redentora de seu Filho.
Outro detalhe que nos chama a atenção é a compaixão e a resolução de Jesus: “Sim! Eu quero. Você está curado” (Mc 1,41).
Este ato de Jesus não aconteceu porque apenas sentiu compaixão e misericórdia, mas foi um ato de coragem e audácia. Jesus ignorou toda a possibilidade de contagio e a legislação prescrita e vigente na época, e libertou o leproso daquilo que era considerado uma maldição de Deus, consequência do pecado.
Jesus toca o doente, o que era proibido por lei. Tocar um leproso era tornar-se como ele. Jesus curou a doença do leproso e tornou-se um leproso, expulso do convívio social. E as consequências dessa atitude de Jesus a gente verifica no final do texto do Evangelho: “Jesus não podia mais entrar abertamente em qualquer cidade, mas ficava fora, em lugares desertos” (Mc 1,45). Essa era a condição dos leprosos, numa sociedade que não conhecia cura para essa doença e tinha medo de contágio.
Parece que a história se repete. O Evangelho comprova que o isolamento social sempre existiu para evitar contaminação de doenças infectuosas. Os protocolos estabelecidos pelas autoridades tinham um caráter sanitário para que a doença não se alastrasse no meio do povo.
O distanciamento social não permite que nos aproximemos e toquemos as pessoas, como Jesus fez. É importante e necessário observar, durante o período da pandemia, as regra sociais e os protocolos estabelecidos pelas autoridades sanitárias para evitar contaminação. Quem não os observa comete um pecado grave contra a caridade.
Papa Francisco, várias vezes, fez um apelo de “colocar a mão na consciência de cada cristão que vive neste período nebuloso do corona-vírus”. Francisco faz um apelo de trabalhar juntos pelo bem comum, evitando “a tentação de cuidar dos próprios interesses, de se concentrar apenas no perfil econômico, de viver hedonisticamente, ou seja, buscar apenas satisfazer o próprio prazer”.
Um outro elemento importante é a compaixão para com quem sofre. Não estou falando de se aproximar de pessoas contaminadas, não é isso. Importante é imitar o cuidado e a solidariedade divina para com quem sofre, seja no corpo, seja psicologicamente, seja espiritualmente. Nesse tempo de pandemia, isso pode ser manifestado pela solidariedade, partilhando alimento com quem passa dificuldade, ajudando alguma família necessitada a pagar o aluguel, não ser um pessimista reclamador de tudo...
Sejamos homens e mulheres da esperança! Papa Francisco nos diz: “Sabemos que as coisas vão melhorar na medida em que, com a ajuda de Deus, trabalharemos juntos para o bem comum. O que cada um de nós e todos nós juntos podemos fazer é de nos comprometer um pouco mais a cuidar uns dos outros e da Criação, a nossa Casa Comum.”
Na próxima quarta-feira iniciaremos a Quaresma com a imposição das cinzas. O tema da Campanha da Fraternidade deste ano de 2021 é “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”. É um tema que favorece a nossa imitação a Cristo. Como imitadores de Cristo, não aceitamos o preconceito que afasta; que afasta de certos tipos de doentes. Como imitadores de Cristo somos gente do diálogo e do amor que aproxima e leva conforto especialmente a quem sofre
Frei Gunther Max Walzer