Homilia - 13/06/2021 - XI Domingo do Tempo Comum
“Com que podemos comparar o Reino de Deus” (Mc 4,30), interroga Jesus. Esta pergunta de Jesus e os textos litúrgicos deste domingo vêm nos questionar sobre a nossa fé no Reino de Deus e na sua vinda. É difícil acreditar que o Reino de Deus já esteja presente e crescendo no meio de nós. O que observamos é uma pandemia que está ceifando milhares de vidas humanas, guerras causando a morte de tantas pessoas inocentes, irrupção de homofobia, xenofobia, racismo, intolerância religiosa, violência, corrupção e tantos outros atos criminosos.
Quando será a vinda do Reino de Deus?
Respondendo, Jesus conta duas parábolas que falam do ambiente rural, pois a maior parte da população da Judeia, nos tempos de Jesus, morava e trabalhava no campo.
A parábola, no mundo judaico, era a forma para ensinar o povo simples porque é sempre uma comparação com imagens. A parábola parte de uma realidade conhecida pelos ouvintes e os leva a tirar uma conclusão, por vezes julgando os fatos e os personagens da história contada.
As parábolas usadas por Jesus falam de coisas pequenas. São coisas pequenas que podem provocar grandes efeitos. Uma pequena gota de perfume enche um recinto com seu aroma agradável. Uma pequena faísca de um curto-circuito pode provocar um grande incêndio. Um micro-organismo, um vírus causou uma pandemia. Umas gotinhas de vacina são necessárias para imunizar milhares de pessoas contra o corona-vírus.
Um dito popular fala dessas pequenas coisas. Diz-se com frequência: “Tamanho não é argumento”. Como também: “Pequeno por fora, grande por dentro”.
Verdade é que o nosso mundo só dá valor às coisas grandes, dá valor aos fortes e aos grandes, às coisas que aparecem. Pouco se valoriza o que é pequeno.
Assim já pensavam muitos contemporâneos de Jesus quando esperavam um Reino de Deus poderoso: com exército forte, com riqueza ostensiva, com luxo e tudo mais. E Jesus, como ouvimos no evangelho, apela para a experiência do colono e do camponês: o homem lança a semente, e esta cresce por si mesma e dá os frutos a serem colhidos. Aí Jesus coloca uma pulga atrás da orelha dos ouvintes. O crescimento e a produção dos frutos não dependem, propriamente, da preocupação do semeador “mas a semente germina e cresce, sem que ele saiba” (Mc 4,27). O agricultor não ficou vigiando para ver a semente germinar e brotar. Não puxou o broto para forçá-lo a crescer.
Os tempos e os ritmos de vida mudaram muito. Nós estamos muito distantes da calma do mundo rural; hoje predomina a eficácia, a pressa, a ansiedade. A eficácia sempre tem pressa. Mas as coisas da vida requerem tempo, calma e sabedoria.
Qual é a lição que aprendemos com as parábolas do evangelho?
O plantio do Reino de Deus não acontece pela grandeza, por coisas vistosas, mas pela simplicidade. Somos tentados a querer que as coisas do Reino de Deus cresçam e apareçam com estardalhaço e chamando muita atenção, como as obras faraônicas. Mas com o Reino de Deus é muito diferente!
Jesus não fala o que o povo quer ouvir, nem o que o povo tem a capacidade de aceitar. Ao contrário, Jesus usa a linguagem que o povo entende até mesmo para repreender o povo.
A mania de grandeza estava presente até no grupo dos primeiros discípulos. Eles queriam saber, exatamente, quem, dentre eles, era o maior (Lc 22,24). O Mestre os censurava severamente, mostrando como deveriam superar esse modo de pensar mundano: “Entre vós não seja assim” (Lc 22,26). Jesus até põe de cabeça para baixo os modelos vigentes: o grande é o pequeno; o servo é servido; o primeiro é o último; quem se exalta será humilhado e o humilhado será exaltado; o ignorante é o sábio e o sábio é privado da revelação...
Estamos passando, atualmente, por muitas crises: crise política, da fam[ilia, educação, saúde, religiosa, vocacional e tantas outras. Com
certeza, não é culpa de Deus, é nossa, que deixamos de semear a vida para semear a ganância, a avareza, o consumismo; e a crise é o fruto daquilo que semeamos. A semente plantada não foi boa. O jeito como lidamos com a natureza, o modo como se manipula a vida em laboratórios, também são sementes que geram doenças e vírus que nunca tínhamos visto, como foi daquela “gripe A” e da atual pandemia.
E nós, será que somos diferentes dos outros? Sonhamos ganhar enormes quantias na loteria, queremos possuir sempre além do que já temos, valorizamos as pessoas pelo que elas produzem e fazem. E, na família, deixamos de valorizar os idosos, as crianças e as mulheres e, em nossas conversas, elogiamos aqueles que se saem melhor na vida, os que ocupam altos postos e damos destaque naquilo que eles fazem.
O Reino anunciado por Jesus não passa por aí. Se queremos viver precisamos semear vida, se queremos paz precisamos semear justiça e fraternidade, se queremos que o Reino de Deus cresça precisamos semear o Evangelho.
E, não esqueçamos, o Reino cresce silenciosamente! Quer dizer, não precisamos de nada grande, não precisamos fazer grandes coisas. São pequenos gestos de caridade, nosso trabalho diário feito com amor e dedicação, nosso olhar silencioso e caridoso; tudo isso faz germinar a vida e a paz no mundo. Importante é abrir as mãos e semear o Evangelho.
Por fim, uma pergunta bem clara e direta: que tipo de semeador sou? De que espécie são as minhas sementes? São de boa qualidade?
Frei Gunther Max Walzer