Homilia - 07/11/2021 - Solenidade Todos os Santos
Recentemente, comemoramos o Dia dos Finados. Lembramo-nos, com muito carinho e, quem sabe, com muita saudade, dos nossos falecidos entes queridos, familiares, amigos e conhecidos. Visitamos os cemitérios, levamos flores, rezamos por eles.
Hoje, celebramos a “Festa de Todos os Santos”. Parece que o povo dá mais importância à memória dos falecidos do que à celebração dos santos gloriosos. Acha que os falecidos lhe estão mais próximos e precisam de muita oração... Por isso, o Dia dos Finados ganha de Todos os Santos. Também, o povo sofrido é mais sensível ao pensamento do sofrimento e da morte, principalmente neste tempo da pandemia. Parece que os que se encontram na “Glória do Céu” nunca passaram por sofrimento e, por isso, também, celebra-se mais a Sexta-Feira Santa que a Páscoa da Ressurreição!
Quando celebramos a Festa de Todos os Santos nos lembramos daqueles e daquelas que nós acreditamos já estarem no Céu, unidos plenamente a Deus.
É esta a ideia que temos de santidade? O que é ser santo para nós? Falar de santidade é um tanto complicado, pois ninguém se considera santo. Há quem diga: “Não sou santo, sou um ser humano!” assim queremos justificar um deslize, um pecado, e a santidade seria uma virtude de pessoas especiais e, talvez, impecáveis. Logo pensamos na Irmã Dulce, Madre Paulina, Madre Teresa de Calcutá ou no Papa João Paulo II.
Os santos “canonizados” oficialmente pela Igreja Católica são vários milhares. Mas existe um imenso número de santos não canonizados, que já estão na presença de Deus no céu. A eles está dedicada esta festa de hoje.
E quem é considerado por Jesus “bem-aventurado”, feliz? Quem é chamado "filho de Deus”? Quem é que “verá a Deus”? De quem é o “Reino dos Céus”?
As pessoas felizes, os bem-aventurados, os cidadãos do Reino dos Céus, são os que têm um espírito humilde, são os “aflitos”, são os “mansos”, são os que têm “fome e sede de Justiça”, são os “puros de coração”, são os “misericordiosos”, são os “que promovem a paz”, são os “que são perseguidos por causa da justiça”, são os que são insultados e perseguidos por causa do Senhor e da justiça.
Todos estes, devem ficar alegres e contentes, porque a recompensa deles já está guardada para toda eternidade no reino dos céus. Eles serão consolados de toda angústia e aflição, possuirão a terra prometida, serão saciados, encontrarão misericórdia, verão a Deus, serão chamados filhos de Deus, e será deles o Reino dos Céus.
Que diferença entre as Palavras de Deus e os critérios humanos! Quem é que o nosso mundo considera feliz? Basta a gente ligar a televisão, escutar o rádio, ler jornais, revistas e acessar o Google para termos a resposta: felizes são os que possuem mansões requintadas, carrões importados da marca BMW ou Mercedes, roupas de grife e de butiques caras, muito dinheiro e uma gorda conta bancária, quem tem muito prestígio, influência e poder. Ser feliz é o mesmo que possuir muitos bens e comprar tudo do bom e do melhor.
Precisamos de santos e santas! Se pensarmos só naqueles que estão nos altares vamos ver só uma pequena parte dos que souberam ser fieis a Deus. Cada um de nós, com certeza, conhecemos pessoas de alta qualidade humana e caráter que souberam construir e praticar o bem. Não precisam ser perfeitos. Ninguém é, nem mesmo aqueles e aquelas que foram canonizadas.
O Papa Francisco, numa de suas reflexões usou a expressão “santo da porta ao lado”. Aquela pessoa com quem convivemos e não consideramos santo ou santa. Isto tem a ver com o Evangelho das Bem-aventuranças, abrindo a possibilidade de termos surpresas quando estivermos diante do Senhor, reconhecendo pessoas que jamais classificaríamos como santos e santas e que, contudo, veremos revestidas com a veste branca da santidade. São pessoas que venceram a tribulação do sofrimento, a tribulação da rejeição social, de não serem consideradas pela dignidade humana. As bem-aventuranças constituem, de fato, o programa de vida do discípulo de Jesus. Se quisermos ter um manual para ser um verdadeiro cristão, é só aplicá-lo.
O Evangelho de hoje é um sério questionamento para todos nós. As bem-aventuranças de Jesus de Nazaré estão numa franca oposição aos critérios do nosso mundo. Será que eu e você seríamos aprovados no vestibular ou no exame das bem-aventuranças? Quem de nós vive a Sua verdade?
Quem são os santos da porta ao lado? É o santo que mora ao nosso lado e, às veze, dentro de nossas casas. Peçamos a graça da santidade, hoje e sempre.!
Frei Gunther Max Walzer