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Homilia - 04/09/2022 - XXIII Domingo do Tempo Comum

Muitos já participaram ou viram nos meios de comunicação as missas com grandes multidões, as grandes concentrações religiosas como Congresso Eucarístico ou Jornadas Mundiais da Juventude, a explosão de entusiasmo na visita do Papa ao Brasil e em outros países, as concentrações eufóricas em Roma nos Anos Jubilares. As grandes concentrações atraem multidões. Conforme a opinião de muitos, a prática da religião deve ser alegre e espontânea.

No Evangelho de hoje, lemos: “Grandes multidões acompanhavam Jesus” (Lc 14,25). Jesus, humanamente falando, tinha tudo nas mãos para ser um grande líder do povo: sua oratória atraía multidões, com seus milagres os discípulos ficaram extasiados, ele interpretava de uma maneira nova as Escrituras. Jesus, porém, não tinha vocação de político para angariar votos nas eleições. Por isso nunca prometeu vantagens materiais ou posições honrosas, mas disse que, para ser seu discípulo, devia-se aceitar a cruz. “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27).

Isso significa: desprendimento total dos familiares, desprendimento dos bens materiais, desprendimento de tudo. “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). Em algumas tradições encontramos até a palavra “odiar” em vez de “desapegar”.

As palavras de Jesus são duras e podem assustar. Seguir Jesus não é só euforia, canto, missas “bonitas”.

Jesus terminou, dizendo: — Assim nenhum de vocês pode ser meu discípulo se não deixar tudo o que tem (Lc14,33)!

Muitas vezes esse “renunciar a tudo” é entendido como recusa de tudo que pode alegrar o nosso coração, como que Deus tivesse ciúme das nossas alegrias. Parece que Jesus quer fabricar cristãos tristes, que confundem santidade com amargura, sisudez, mau humor.

Jesus esclarece: diante das exigências do Reino, é necessário renunciar ao que for atrapalhar. Mas, não é a alegria, nem são os sadios prazeres da vida que atrapalham. Muito pelo contrário, até ajudam, na medida em que nos deixam mais equilibrados, pacificados interiormente. Para que serviria um neurótico?

A renúncia que Jesus pede é deixar coisas que, em si, até são boas mas que não permitiriam a busca de algo melhor.

Na verdade, as palavras de Jesus tocam certas durezas da vida de todos, onde os afetos mais belos dos pais, dos filhos, do cônjuge, dos irmãos e dos amigos, são marcados, muitas vezes, pelo cansaço e pela incompreensão. Até mesmo quando se está apaixonado, ou quando nos alegramos pelo carinho de uma pessoa querida, experimentamos, de algum modo, a precariedade daquela relação, já que ela sempre é condicionada e limitada. É esta precariedade que Jesus quer evidenciar nas suas duras palavras.

Naturalmente, Jesus não pretende desvalorizar os afetos humanos. Ele orienta, porém, que o sentido da nossa vida não é esgotado nestes afetos. Devemos reconhecer que o sentido da vida é algo maior.

Jesus com convicção nos diz que só ele pode preencher o coração de quem o segue, e por isso, é extremamente duro e exigente.

Esse Evangelho revela que o seguimento de Jesus é uma decisão pessoal. Não é possível seguir Jesus simplesmente “no meio da massa” que não sabe muito bem para onde está indo. Cada um precisa refletir se está mesmo disposto a assumir o caminho da fé proposta por Jesus. Daí Jesus exemplificou o que disse com duas comparações: a construção de uma torre e o combate do inimigo. Estas comparações revelam que quem abraça a proposta do Reino tem de se preparar para exigências e consequências das quais não pode fugir, sob o risco de fazer da fé um engano a si mesmo.

Muitos hoje, como no tempo de Jesus, buscam na fé apenas a satisfação de suas necessidades pessoais: a solução de problemas imediatos, como saúde, finanças, relacionamentos. Outros veem na fé a oportunidade de se dar bem na vida, alcançando prosperidade material.

Misturar a fé com outros interesses não dá certo! Por que não? Sabemos que num copo não cabem, ao mesmo tempo, líquidos diferentes, por exemplo vinho e cerveja. No mesmo coração não cabem, ao mesmo tempo, o amor a Deus e o amor às coisas materiais. É necessário escolher um entre os dois. Mesmo assim, existe muita gente que quer equilibrar-se numa corda bamba, isto é, satisfazer as exigências do mundo pagão e não perder a aparência de cristão. Cristãos de casca apenas, cristãos de casaca virada. Participam da missa e participam da sessão espírita, vão à romaria e vão a cartomante e benzedeiras.

Evidente é que um programa onde se fala da cruz não tinha nada de atrativo. Por isso era até de se admirar que alguns seguissem Jesus, mas, por

outro lado, também se entende que o número dos que o seguiram mesmo foi e sempre será reduzido. Sempre será o “pequeno rebanho”.

Jesus não quer decisões levianas, mal pensadas, de gente carregada só pelo entusiasmo do momento. Ele diz que antes de começar a construir é preciso calcular os gastos para ver se damos conta de chegar ao fim; antes de entrar numa batalha é bom ver se temos troas suficientes para enfrentar a luta. Em outras palavras: não comece para depois na acabar: planeje: aprofunde as decisões para poder assumir o que decidiu.

Dia 7 de setembro, data importante que incentiva o amor à Pátria como cantamos no Hino Nacional: “Pátria amada”. Que pátria queremos amar?

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça” (Mt 6,33)

O Brasil que queremos emergirá do comprometimento de todos os brasileiros com os valores que têm o Evangelho como fonte da vida, da justiça e do amor. Queremos uma sociedade cujo desenvolvimento promova a democracia, preze conjuntamente a liberdade e a igualdade, respeite as diferenças, incentive a participação dos jovens, valorize os idosos, ame e sirva os pobres e excluídos, acolha os migrantes, promova e defenda a vida em todas as suas formas e expressões, incluído o respeito à natureza, na perspectiva de uma ecologia humana e integral.

Precisamos ser uma nação de irmãos e irmãs, eliminando qualquer tipo de discriminação, preconceito e ódio. Somos responsáveis uns pelos outros.

O caminho é longo e exigente, contudo, não nos esqueçamos de que “Deus nos dá a força de lutar e sofrer por amor do bem comum, porque Ele é o nosso Tudo, a nossa esperança maior” (Bento XVI, Caritas in veritate, 78).

A Virgem Maria, mãe do Ressuscitado, nos alcance a perseverança no caminho do amor, da justiça e da paz.

 

Frei Gunther Max Walzer

 

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