Homilia - 11/12/2022 - Terceiro Domingo do Advento
Celebrando o Terceiro Domingo do Advento, o Natal está chegando. Bem sabemos que nosso modo de preparar o Natal não rima com os preparativos comerciais que parecem ser mais agressivos, na tentativa de recuperar as perdas financeiras decorrentes de um ano em crise. Um Natal que vai em busca do lucro, em resumo.
O nosso Natal cristão, por sua vez, procura fomentar e incentivar o cultivo dos valores cristãos.
A reflexão do Primeiro Domingo nos chama a atenção de estar vigilantes, pois não sabemos quando virá o Senhor. .
No domingo passado, a voz de João Batista insiste no arrependimento dos nossos pecados e o caminho mais adequado para preparar a vinda do Senhor é a conversão.
A Alegria é o tema fundamental deste Terceiro Domingo do Advento, que a antiga liturgia latina chamava de Domingo Gaudete. Quando a esperada vinda está finalmente para se realizar e todos os sinais a confirmam, a esperança e a preparação se transformam em alegria e júbilo.
Alegria e tristeza são sentimentos bem humanos.
Num mundo marcado pela insensibilidade, pelos conflitos entre as nações e nas relações interesseiras entre pessoas, gestos simples, como as lágrimas de um ancião, viram destaques no noticiário da imprensa. O Papa Francisco chorou.
Ganhou destaque de notícias a imagem do Papa Francisco chorando, nesta quinta-feira, durante a tradicional homenagem feita a Nossa Senhora, na Praça de Espanha, centro de Roma.
Talvez fôssemos tentados a indagar o porquê do choro, como os anjos à Madalena (cf. Jo 20,11-18). Papa, por que choras? Francisco sabe por quem chora.
As lágrimas caíram exatamente quando a boca do pontífice pronunciava uma prece pelo povo da Ucrânia, sofrendo há nove meses com a guerra. Francisco apresenta a súplica “das crianças, dos idosos, dos pais e das mães, dos jovens daquela terra martirizada.” O choro do Papa é a resposta ao seu pedido do dom das lágrimas. As lágrimas vieram naquele momento e, certamente, devem visitar seu rosto muitas vezes nos momentos de solidão, de oração ou dos encontros com as dores da humanidade que marcam sua rotina. Muitas vezes o vemos comovido, raramente chorando como neste dia oito de dezembro.
O choro do Papa é expressão de sua humanidade, um ser plenamente humano. Jesus também chorou, porque em tudo se fez semelhante a nós, menos o pecado (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 470), e proclamou bem-aventurados aqueles que choram, porque serão consolados (Mt 5,4).
E nós: será que aprendemos a chorar diante do sofrimento dos outros? É esta o aprendizado ao qual Francisco se refere, considerando, se o pranto não vem, devemos pedi-lo.
Muitos de nós talvez choram – e não poucas vezes – por algo que não saiu como esperado, pelo fracasso em um projeto, pelo sonho frustrado, pela mágoa em uma discussão.
Hoje, neste Terceiro Domingo do Advento, um fato nos deixa tristes, não encontramos João Batista no deserto ou à beira do rio Jordão mas no cárcere. Ele nos transmite a imagem de tantas pessoas que vivem presas na vida, pedindo uma luz. João Batista é um profeta calado à força, impedido de anunciar um mundo novo.
Podemos participar do grupo dos discípulos de João Batista e ir até Jesus para perguntar: “O senhor é aquele que ia chegar ou devemos esperar outro?”
Como naquele tempo, Jesus continua respondendo à mesma pergunta com suas obras: cegos recuperam a vista, surdos ouvem, mudos falam... alguém novo está no meio do povo recuperando a vida do povo. Vem com a missão de trazer vida, onde a vida deixou de bater ou foi roubada, vem para trazer luz, onde trevas fecharam olhares, vem trazer vida nova com muita alegria.
Nós, cristãos, não cultivamos ilusão ou fantasias, mas pacientemente plantamos sementes de misericórdia, sementes de paz, sementes de dignidade em favor da vida e, principalmente, neste momento desta forte crise moral, plantamos sementes de honestidade.
Hoje, cada um de nós é João Batista, aquele que é enviado para preparar um caminho novo. Hoje, cada um de nós é o mensageiro da alegria, que não deixa o povo sucumbir na tristeza das lamentações e lágrimas, mas o convida a trazer alegria. Hoje, somos profetas da alegria continuando a caminhada em busca de uma de tempos novos. Anunciemos uma profecia
nova que não mais conhecera dor e nem o choro. Tenhamos paciência, esperança e coragem! É assim que testemunhamos nossa alegria ao mundo.
Frei Gunther Max Walzer