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Homilia - 29/01/2023 - IV Domingo do Tempo Comum

Todos nós procuramos a felicidade, queremos ser felizes. Onde a encontramos? Como?

Nas livrarias, você encontrará nas prateleiras da “autoajuda” uma quantidade de livros e autores que indicam métodos para alcançar e chegar à felicidade. Todos têm um título como este ou parecido: “Podes ser Feliz”. Olhando os subtítulos: “Um encontro com a criança que já foste”, “Brincar”, “Gozar”, “Sonhar”. E, no final do livro, nove exercícios para “Obter Energia”. A última frase do livro: “Os teus centros energéticos estão agora abertos e carregados de energia”.

Muita gente pensa que a felicidade está na riqueza, no conforto, no status social e no poder. Será que é lá a verdadeira felicidade? Olhando para a maioria do povo e a situação do nosso país, estamos longe da felicidade e, observando bem, a procura desregrada da riqueza é uma fonte de sofrimento para muitos, e também para a própria pessoa.

Já estamos cansados de ouvir falar em corrupção, assaltos, violência, exploração, desemprego e de uma ladainha de injustiças que estamos vivendo. A desgraça e a infelicidade é consequência da fome de dinheiro, de lucro, de poder. Alguém pode pensar que ser rico significa ter poder, receber honrarias e ter uma posição superior aos demais: aqui é que começa o perigo, pois, onde há poder, riqueza e superioridade, há também, com muita frequência, oprimidos, esmagados, excluídos.

Há gente que se pergunta: riqueza e bem-estar são bênçãos de Deus? Certas leituras do Antigo Testamento parecem afirmar isso (cf. Dt 28,1-14). Mas pela pregação dos profetas começa-se a entender que a riqueza, muitas vezes, é fruto de engano, fraude e desonestidade, de exploração dos empregados, de opressões e injustiças.

Ouvindo as leituras dos textos da liturgia de hoje, podemos perceber que, falando bem da pobreza, não são nada atraentes para a nossa sociedade, marcada por uma ideologia que valoriza o lucro e a riqueza.

“Procurai o Senhor, vós todos, os pobres da terra”, diz o profeta Sofonias (2,3). Eram difíceis aqueles tempos do profeta Sofonias. Os pobres da terra eram muitos, certamente. Explorados, cultivavam o solo, mas não comiam o que plantavam. Humilhados, não lhes restava outra escolha a não ser confiar em Deus. Na visão do profeta, é com este “resto de Israel” que Deus vai contar. Trata-se do “povo pobre e humilde”. Aquelas pessoas que permanecem fiéis a Deus e aos grandes valores humanos. Não praticam a injustiça, não dizem mentiras, não procuram enganar.

Anos depois, o apóstolo Paulo se dirige aos Coríntios. Paulo pede que a comunidade compreenda que sua força encontra-se unicamente em Deus. Ao perceber que membros da comunidade correm o risco da presunção, ao se considerarem culturalmente mais sábios, economicamente mais poderosos e socialmente mais nobres, Paulo assume uma posição clara: este não é o caminho do Evangelho. O que sustenta a comunidade, portanto, é a simplicidade e a humildade. Duas virtudes capazes de manter o respeito para com todos, na fraternidade. A própria comunidade de Corinto é prova disso, pois foi formada na periferia de uma grande cidade. Eram pessoas fracas, desprezadas, consideradas ignorantes pelas elites. Mas é com essa ignorância que Deus quer confundir os sábios e os fortes.

E, o que Jesus diz sobre riqueza e pobreza?  Será que Jesus se refere ás diferentes categorias de pessoas ou a diferentes classes sócias como nós fazemos?

No Evangelho ouvimos que Jesus subiu a montanha, assentou-se e começou a ensinar. Começa assim: — Felizes as pessoas que são espiritualmente pobres, pois o Reino do Céu é delas. Seguem outras bem-aventuranças, mas todas decorrem da primeira. A pobreza em espírito tornará as pessoas mansas e misericordiosas, capazes de lutar contra a injustiça e até de morrer por esta causa.

Para entender melhor o sentido das bem-aventuranças, devemos olhar o próprio Jesus. Seu modo de viver, de julgar, de ensinar reflete todo o espírito das bem-aventuranças. Jesus era pobre, desapegado, manso e misericordioso, perseguido por causa da justiça.

Jesus proclama felizes os pobres, os sofredores, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os que trabalham pela paz, os perseguidos por causa do bem.

Mas, faz sentido considerar felizes essas pessoas? As bem-aventuranças são uma mensagem válida para os nossos tempos? Que sentido tem pronunciar este texto num sociedade de consumo, que mede a felicidade segundo as posses, o sucesso e o poder? E no nosso mundo onde há tanta pobreza e miséria, tanta injustiça e opressão, que sentido tem repetir: “bem-aventurados os pobres... bem-aventurados os oprimidos e perseguidos...”?

Para a lógica racionalista e consumista do mundo, as bem-aventuranças são uma estupidez, não passam de normas de como nunca triunfar na vida, para ser um infeliz fracassado em vez de um realizado feliz. Para viver as bem-aventuranças o cristão precisa fazer uma total inversão de critérios e valores, pois é um ideal tão elevado que uma pessoa comum não consegue atingi-lo.

No “Sermão da Montanha” não se trata de uma poesia abstrata, mas de um manifesto que agride a ordem social desde o tempo de Jesus até os nossos dias. Nossa experiência brasileira mostra bem uma realidade falsa e falida de políticos e empresários que se deixaram levar pelo pecado da presunção.

É preciso ter presente que Jesus não condena, no Sermão da Montanha, os ricos, os políticos, os letrados... aqueles que se destacam em alguma coisa. Ouvimos muito falar em reforma política e outras reformas. O intento das Bem-aventuranças está em mostrar um novo modo de pensar e de agir, especialmente necessário para não se cair na tentação do pecado da presunção; pecado que promove o egoísmo e favorece o desrespeito para com os mais fracos.

No Sermão da Montanha, Jesus mostra que a formação de um mundo novo, de uma sociedade mais humana, encontra-se naqueles que assumem a proposta das Bem-aventuranças em suas vidas. Estes são os criadores de um mundo novo, os autênticos testemunhos do Reino de Deus.

Porque o Reino dos Céus, presente na mensagem das Bem-aventuranças, nada mais é que a prática do pão partilhado com o faminto, a mão reconciliadora estendida ao inimigo, a negação radical de toda forma de violência, a busca e o cultivo de uma sociedade que viva na concórdia da fraternidade.

As ‘bem-aventuranças’ são a Constituição do Reino de Deus. É a nova lei do Senhor para nós. São o guia da rota, do itinerário, são a bússola da vida cristã. Neste caminho, segundo as indicações deste ‘GPS’, podemos prosseguir na nossa vida cristã e ser felizes.

Frei Gunther Max Walzer

 

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