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Homilia - 19/02/2023 - VII Domingo do Tempo Comum

Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”, é a recomendação que Jesus nos faz no Evangelho que acabamos de ouvir.

“Não sou santo”, costumamos dizer.

Então “ser perfeito” não é uma utopia, um sonho? Olhando o nosso mundo, parece que tudo está piorando a cada dia: o mal da corrupção, de quadrilhas camufladas em empresas, de gangues que se especializam em violências; de políticos legislando em causa própria. Como diz o refrão de uma canção que escutei no rádio: “que país é esse?”

Deixando o contexto social e olhando a esfera familiar, a coisa não muda de figura. Brigas em família, casais que se separam por pura incapacidade de perdoar, conflitos entre irmãos porque um não cede na distribuição da herança, ameaças de vingança... Se acrescentarmos ainda os desacertos dentro de casas provocados por alcoolismo, pela droga ou pelo desemprego, então a gente se pergunta: vale a pena viver deste modo?

Todos estes sintomas são indicativos de um mundo esfacelado, sem amor e povoado pela maldade.

É neste mundo que recebemos as orientações da Palavra do Mestre Jesus para nos comportar com amor; ser fraternos e não ceder ao ódio.

O Livro do Levítico nos diz: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Levítico 1,2).

E o que é ser santo? Deus nos diz “é não ter ódio, é alertar o outro para que não peque, é não ser vingativo, é não guardar rancor e amar o próximo como a si mesmo”.

Ser santo é agir de modo diferente das outras pessoas que não conhecem sua origem divina. Quem sabe de onde vem, qual é sua família e tem consciência disso; quem se porta de um modo nobre, porque sabe qual é o valor de seu sangue e seu DNA.

No texto do Evangelho, Jesus confirma essa nossa filiação e nos propõe: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!”. Isso ele fala depois de nos exortar a uma vida de amor e de perdão em relação ao nosso próximo. Não retribuir ofensas e agressões, não odiar o inimigo e amá-lo, enfim agir como o Pai.

“Ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho, dente por dente’. Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!”. Que estranho este conselho de Jesus! Será que ele está pregando o conformismo e a passividade? Não! Jesus quer mudar as medidas humanas. A medida de Deus é a misericórdia, é a lei do amor. Jesus nos quer ensinar uma nova maneira de praticar a nova justiça, que criar uma nova sociedade, uma sociedade de fraternidade.

Não sei, se vocês já perceberam, que a natureza nunca perdoa. Tudo na natureza segue leis rígidas. A natureza não perdoa nenhum pecado cometido contra ela: cada interferência contra as leis da natureza traz consigo, imediatamente, as suas consequências. A natureza protesta imediatamente contra a falta cometida contra ela.

E a pessoa humana? Como seres racionais (homo sapiens) podemos amar ou odiar. Podemos perdoar as faltas cometidas contra nós ou não. Podemos perdoar uma ofensa recebida ou podemos nos vingar.

E Deus? Deus perdoa sempre. Vejamos, há uma graduação de perfeição na capacidade do perdão: a natureza jamais perdoa, o ser humano perdoa quando quer e Deus sempre perdoa.

O perdão é, portanto, expressão de perfeição. Quanto mais tivermos a capacidade de perdoar, seremos semelhantes a Deus. Perdoar é uma atividade divina.

Quanto mais alimentarmos em nós sentimentos de vingança, de perseguição, de ódio, tanto mais nos afastamos de Deus, tanto mais nos assemelhamos aos animais irracionais.

Mas, a proposta mais chocante para nós é esta: -Vós ouvistes o que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!” Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!

Somos obrigados a inverter tudo aquilo que consideramos como “natural” e até mesmo correto. Se alguém é meu inimigo, então devo… amá-lo?

De meus estudos de filosofia, lembro-me de que nunca se pode aceitar uma sentença onde os próprios termos se contradizem. No Evangelho, ouvimos o contrário: amar o inimigo! Fazer bem aos que nos contrariam!

Jesus, no Evangelho, não está fazendo um pedido paradoxal? Primeiramente, inimigo é o tipo de gente que preferimos ver sempre longe de nós. De perto, só morto. Jesus inverte por completo a sequência dos sentimentos humanos e, ao invés de justificar a raiva e o ódio, que poderiam levar a um crime, ele propõe justamente o amor aos inimigos. Acredito que amor é coisa que reservamos para os amigos mais chegados, pais, filhos, parentes, esposa, esposo, namorado, namorada, e assim por diante. Mas amar os inimigos? Onde é que já se viu tal coisa?

Jesus, com estas palavras, derruba todas as barreiras, e coloca como exemplo deste amor universal o Pai do céu, que não faz distinção entre os homens, porque todos são seus filhos. Se Deus é misericórdia, se Deus perdoa os injustos e maus, ele quer que sejamos como ele. Jesus nos lembra que perdão gera perdão e amor gera amor. As palavras de Jesus excluem, da forma mais absoluta, qualquer recurso à violência. Jesus quer que, em nossa condição de filhos e filhas de Deus, pratiquemos o bem de maneira total e radical a todos.

Todos são filhos de Deus e, consequentemente, todos são nossos irmãos. É evidente que entre esses se encontram os que não gostam de nós e, inclusive, os que nos perturbam. Mesmo esses são nossos irmãos.

Por isso, Jesus especifica a projeção deste amor ao próximo, quando explica que devemos amar os que nos odeiam e perseguem, os que falam mal de nós, nos caluniam e estão prontos a fazer-nos todo mal que puderem.

“Portanto, sede perfeitos assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).

A misericórdia e perdão são atitudes do cristão, pelas quais seremos reconhecidos como filhos de Deus.

E Jesus nos deu um exemplo disso. Na cruz mesmo sendo maltratado e morto, ele teve um amor profundo pelos seus inimigos. Ele orou ao Pai por eles: “Perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.

Sempre devemos ser “construtores da paz”. O Papa viaja pelo mundo, mas não em tanque de guerra.

Com toda a perseguição e toda a opressão, o cristão não pode nem pensar em vingança. O Papa João Paulo II foi falar com aquele que tentou contra a sua vida.

Quando rezamos aquela prece do Pai-nosso: “Perdoai... assim como nós perdoamos!”, voltamos a pregar uma religião como “ópio do povo”? Não! Devemos denunciar o mal. Jesus não protestou quando o soldado o esbofeteou no tribunal?

Defender a justiça é uma coisa, vingar-se é bem diferente: a vingança nos coloca no mesmo nível daqueles que nos ofenderam. Até Pedro teve de aprender essa lição a duras penas: “Sete vezes?” perguntou, e a resposta é bem conhecida.

Saulo é conivente com o assassínio de Estêvão que depois, esse mesmo Saulo é chamado para substitui o mártir Estêvão. O assassino de Maria Goretti foi a mais notável testemunha do processo de sua canonização.

Amar o inimigo! Não apenas tolerá-lo, suportá-lo, mas chegar a querer-lhe bem. Martin Luther King escreveu certa vez: “Obrigado, Senhor, porque não nos obrigastes a gostar de nossos inimigos, mas sim a amá-los!”

Amar é sobrenatural! Mesmo assim, é para todos nós um desafio não pequeno.

Os nossos sentimentos existem e não podemos negá-los. Um a pessoa encontra (caso verídico) na igreja o assassino do irmão e o convida: “Vamos rezar um Pai Nosso de mãos dadas?”.

Dispensa-se comentário.

Ser cristão não é fácil. Jesus nunca disse que seria. Talvez seja parte de nossa cruz sermos incompreendidos, ridicularizados e até desprezados por nossas reações diante de algumas situações e pessoas. Mas se fizermos o propósito de a cada dia reagir segundo o Cristo, poderemos repelir os ataques com a não-agressão, quebrando assim a espiral de violência que toma conta da nossa sociedade e que nos deixa seduzidos pelos bens materiais, explosivos no trânsito e cegos para o essencial.

Que o Senhor nos ajude a sermos “Perfeitos como nosso Pai é perfeito”!

Frei Gunther Max Walzer

 

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