Homilia - 02/04/2023 - Domingo de Ramos
Iniciamos hoje a Semana Santa. Durante a Quaresma, percorremos com Jesus uma longa caminhada até Jerusalém onde nos encontramos hoje. Jerusalém é o cenário principal onde acontece a nossa Páscoa.
Acabamos de ouvir o relato da Paixão de Nosso Senhor. Hoje é o Domingo de Ramos e, em si, o texto do Evangelho é outro. Conta-se a entrada festiva de Jesus na capital do país, a cidade de Jerusalém. Na chegada em Jerusalém, o povo todo estava vibrando. Foi uma festa bem alegre. Uma multidão de gente, gente de todos os cantos da cidade veio bater palmas e veio para receber Jesus que entrava na cidade.
Se Jesus entrasse em Jerusalém hoje, que cidade encontraria? Encontraria uma onda de protestos contra o governo de Israel nas ruas onde milhares de turistas perambulam todos os dias, vendedores de imagens de cerâmica e gesso, camisetas e tapeçarias, agora o comércio está fechado, uma cidade morta.
A loja de um vendedor de ícones ficou fechada. Ela não fica muito longe da Igreja do Santo Sepulcro, construída onde a crucificação, o sepultamento e a ressurreição de Jesus teriam ocorrido. A igreja costuma estar lotada de fiéis que beijam, às vezes em lágrimas, o túmulo coberto por uma laje de mármore.
Jesus entrou em Jerusalém. Com palmas nas mãos, o povo acompanhou Jesus para dentro da cidade – por isso chamamos o domingo de hoje de “Domingo de Ramos”.
As horas passaram, a semana foi avançando e, pouco a pouco, Jesus sentiu que a situação ia ficando ruim para seu lado. As autoridades religiosas, enciumadas com a popularidade de Jesus, articularam um grande movimento de difamação e perseguição contra ele. Jesus sentiu que seus dias e horas estavam contados. Não haveria escapatória.
Ele aproveitou o momento da ceia pascal – isto foi numa quinta-feira para uma despedida dos seus, entregando-lhes o memorial de sua paixão. Pressentiu a traição de um deles. Logo em seguida, na mesma noite, refugiou-se no Monte das Oliveiras, onde foi falar com Deus sobre o que estava acontecendo. Ali sentiu uma grande angústia pelo que previa acontecer, a ponto de ele suar sangue. Logo em seguida, com o auxílio de Judas, chegou o momento da prisão.
Jesus, então, é levado de um lado a outro, submetido a torturas, tratado como um criminoso, um malfeitor, um maldito...
O governador Pilatos lava as mãos diante da condenação do inocente...
Quantos de nós hoje não fazem como Pilatos, diante das discussões sobre aborto, sobre as políticas públicas de assistência social, sobre a ideologia de gêneros, sobre violência e pena de morte? Muitas vezes lavamos as mãos por não termos coragem de concordar nem discordar... tentamos nos omitir, justificando-nos em nossa ambiguidade...
Jesus assumiu até o extremo seu amor e defesa da vida, tornando-se solidário com todos os seres humanos que sofrem violência.
Cristo continua sofrendo, Cristo continua morrendo hoje. A Via Sacra é o caminho da Paixão e Morte de Cristo, mas é também a via-sacra de cada um de nós.
Não de uma via-sacra meramente histórica de um Cristo que sofreu e morreu na cruz, mas queremos viver uma via-sacra de um Cristo que continua sofrendo em tantos nossos irmãos e irmãs.
Todos nós estamos já sofremos as consequências de um vírus que trouxe sofrimento e morte. Foram dias, talvez semanas e meses, que nos fizem refletir e meditar sobre o verdadeiro sentido da vida.
No entanto, nestes dias de dor e sofrimento, não faltaram atitudes como a de Simão e de Verônica. São estas as atitudes de pessoas que cuidam dos enfermos e idosos, das famílias com recursos escassos e pessoas abandonadas, pois em cada sofredor se encontra a face ensanguentada do Senhor. São tantas pessoas e voluntários que ajudam o Cristo a carregar a cruz.
Domingo de Ramos: Jesus entrando em Jerusalém, não quis entrar nos palácios, mas quis entrar nos corações das pessoas. Os corações eram as casas onde ele quis ficar, na sua casa e seu apartamento, no seu lar e sua pessoa. Jesus queria construir uma nova cidade, uma cidade de amor, cidade de fraternidade e solidariedade, uma cidade de paz.
Estes dias de recolhimento e, quem sabe, de sofrimento, dor e despedidas dolorosas, nos fazem refletir. Nossa reflexão não pode, porém, ficar só no tomar conhecimento do que está acontecendo. Nosso ver tem de nos conduzir a ações concretas de solidariedade e fraternidade. Gesto concreto de solidariedade é o mesmo gesto de colocar o seu manto e seu ramo na calçada, por onde Jesus vai passar e entrar no seu coração.
Frei Gunther Max Walzer