Homilia - 21/05/2023 - Ascensão do Senhor
Hoje, celebramos a festa litúrgica da Ascensão do Senhor. Falamos da Ascensão de Jesus, todos os domingos, quando pronunciamos no Credo, isto é, na profissão de fé, as palavras “subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai todo poderoso”.
A Ascensão do Senhor é descrita de modo bem detalhado nos Atos dos Apóstolos. A vida terrena de Jesus culmina com o evento da Ascensão, que é quando Ele passa deste mundo ao Pai, e é levantado à sua direita.
Imaginemos, se a Ascensão de Jesus fosse transmitida via satélite para todo o planeta. Com certeza, seria um sucesso de audiência, sem contar a admiração daqueles que estivessem assistindo a cena ao vivo, no próprio local da Ascensão. Mas, a Ascensão de Jesus não é uma simples notícia e nem mesmo um fato midiático. O sentido da Ascensão de Jesus está na meta atingida por Jesus, depois de caminhar nas estradas do mundo. Jesus é apresentado, no Evangelho, como aquele que veio de Deus e “passou entre nós fazendo o bem”, no dizer de São Pedro. “Passou entre nós”, quer dizer, fez a sua Páscoa; a sua passagem. Agora, a sua passagem, a sua caminhada entre nós termina, e Jesus volta para o Pai. Por isso, a Ascensão indica a realização da meta da vida de Jesus: o voltar para o Pai, o voltar para estar junto do Pai.
Qual é o significado deste evento? Quais são as consequências para a nossa vida? O que significa contemplar Jesus sentado à direita do Pai?
O Mistério da Ascensão de Jesus coloca-nos igualmente diante da meta de nossas vidas. Somos caminheiros, vivemos neste mundo de passagem, como viajantes, e temos uma meta existencial: caminhamos para viver no céu, isto é, para viver no espaço divino, onde Deus habita.
Não é uma meta de vida que nos paralisa, olhando para o céu, ao contrário, uma meta que é proposta como sentido de vida, como uma razão pela qual vale a pena viver. Naquele dia da Ascensão de Jesus, os discípulos e discípulas do Mestre, representavam cada um de nós. Hoje, nós somos os discípulos e discípulas do Mestre e caminhamos nos caminhos do mundo, mas iluminados com a luz do Evangelho.
Temos uma missão! “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!”. Essa é a missão primeira e básica da Igreja. Não se trata de converter todas as nações para a fé cristã, levando-as a aceitar um sistema doutrinal ou um conjunto de ritos, nem mesmo de filiar-se à instituição eclesial. Trata-se de fazer irmãos, que vivam em profundidade o mistério de Cristo-irmão.
Não há aqui a ilusão de que todos vão aderir e seguir a Jesus. Mas, em todas as nações, com certeza, haverá homens e mulheres que se deixam contagiar pelo testemunho de vida fraterna dos cristãos.
Por isso, é importante salientar que missão nada tem a ver com proselitismo, pois este visa arrebanhar pessoas sem despertar nelas as condições para que elas mesmas tomem a decisão. O proselitismo não respeita a capacidade das pessoas de fazerem sua escolha.
Fazer discípulos significa ampliar a fraternidade, é fazer irmãos, fazendo-se irmão de todos. Fazer discípulos também significa saber apresentar a proposta com a própria vida. Charles de Foucauld dizia: “É preciso gritar o Evangelho com a vida!”.
O ingresso nessa vida de comunhão plena de Deus se dá pelo Batismo “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, que é a expressão sacramental de “fazer discípulos”. Por meio do Batismo, dá-se a vinculação do cristão com o corpo do Cristo.
Como batizados e membros da Igreja temos também uma responsabilidade. Hoje se celebre o Dia Mundial das Comunicações Sociais. A Ascensão de Jesus, além de indicar o endereço da realização de nossas vidas, na casa do Pai, é também um chamado à responsabilidade. Percebemos isso com os dois homens, vestidos de brancos, acordando os discípulos e discípulas de Jesus de todos os tempos e de todos os locais da história para se mexerem. Não somos “olhadores” do céu, mas somos testemunhas da vida plena presente no Evangelho.
O Céu continua nossa meta, mas enquanto caminhamos na terra, Jesus nos envia a testemunhar corajosamente o seu Evangelho. Este é Dia Mundial das Comunicações nos convida a não ter medo, a não nos intimidar, a não nos envergonhar de conhecer que a meta da nossa vida é o céu e que nossa responsabilidade é testemunhar o Evangelho.
Dirijamos, hoje, o olhar na vida e na vocação de Nossa Senhora. Por ser a Mãe de Jesus, ela teve a graça de participar plenamente da Ascensão de Jesus, quando foi elevada ao céu de corpo e alma, na sua Assunção. Além disso, a Assunção de Maria, pelo fato dela ser humana, ser gente como nós, é como que uma garantia de que um dia todos nós, vivendo no seguimento de Jesus, participamos da mesma meta, do mesmo destino: habitar eternamente na vida divina; no céu. Somos cidadãos do infinito e nosso destino não está na terra, mas no céu.
Frei Gunther Max Walzer