Homilia - 25/06/2023 - XII Domingo do Tempo Comum
A palavra central do texto do Evangelho de hoje pode causar um certo incômodo. Ainda estou para encontrar uma pessoa que nunca sentiu medo em sua vida. Vivemos um tempo em que, facilmente, nos encontramos amedrontados ou até convivemos com pessoas que manifestam seus medos.
O medo é uma característica de todas as épocas: medo da violência, medo do desemprego, medo de doença, medo da morte. O medo está arraigado na própria história da vida e de dar passos errados na estrada da vida.
O texto do Evangelho fala três vezes em seguida que não precisamos ter medo. Deus está conosco.
No entanto, Jesus não ignora ou esconde a nossa realidade que mos pode causar medo do futuro. Não promete um paraíso, como ouvimos em pregações que omitem a Cruz para apresentar Jesus como uma espécie de mágico que vai trazer segurança financeira e prosperidade. É preciso desmentir todo defensor e pregador da Teologias da prosperidade. Jesus é sincero: vai haver confronto com quem não aceita o Evangelho, vai acontecer crítica, vai ter perseguição e, em casos mais agudos, como sabemos, até mesmo morte. A Palavra de Jesus não tem a finalidade de assustar. Nós a acolhemos como palavra de sabedoria, dizendo que no mundo vamos conviver com provações e confrontos. O fato de sermos cristãos não nos coloca numa bolha, mas na realidade da vida.
Este texto do Evangelho reflete a situação das primeiras comunidades cristãs que sofriam grandes perseguições, além de conflitos entre parentes, criando divisão por causa da sua opção pelo Reino. Jesus diz que os discípulos não estão acima do Mestre. “Quem não pega a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mt,10,38).
Vejamos um aspeto dramático na missão dos doze discípulos. O grupo é pequeno e a missão é enorme: “curar toda espécie de enfermidades”. Nesta missão não se deve receber nada em troca e nem levar nada consigo. E, além disso, são como ovelhas, enviados a enfrentar lobos ferozes. Quase não é possível imaginar um quadro mais adverso. Mas a força dos discípulos de Jesus está na confiança inabalável na sua palavra. Jesus lhes diz por três vezes: “Não tenham medo” (Mt 10, 26,28,31).
Não ter medo de perseguições, sofrimentos, tribulações e morte. No entanto, os apóstolos estavam enfrentando uma situação difícil que os colocava num verdadeiro dilema: a quem temer? A Deus, a cujo serviço se tinham posto, obedecendo ao mandato recebido de Jesus, ou aos adversários, que tentavam tirar-lhes a vida? O que fazer: seguir em frente, buscando ser fiel a Deus ou fugir da missão e acomodar-se, pressionados pela violência dos inimigos?
A resposta de Jesus é bem pragmática. O máximo que os perseguidores podem fazer é tirar a vida física dos apóstolos. Mas, perigo maior seria perder a vida eterna. Isto pode acontecer a quem se mostra infiel a Deus. A ação dos adversários atinge o corpo, ao passo que a ação de Deus toca no mais profundo da existência humana – a alma. Logo, o discípulo deve discernir bem a quem deverá temer.
Jesus encorajou os apóstolos a confiarem na Providência Divina. Nada ficará perdido ou esquecido diante do Pai. Ele vê as lágrimas, o sangue e até o cabelo que cai. Ele está sempre presente. Sua vida está nas mãos do Pai.
“Segura na mão de Deus”, assim cantamos. Jesus nos coloca no mesmo dilema dos apóstolos. Como não ter medo, como confiar na Providência Divina se a vida é parecida a um filme de terror.
O futuro é sombrio em diversos aspetos. A vida perdeu o brilho porque vemos fome, pobreza, desemprego, muita violência, tristeza. Milhões batalhando apenas para sobreviver.
Hoje, Jesus nos diz confiar na Providência Divina, nos colocar nas mãos de Deus. Precisamos das mãos de Deus e das mãos de irmãos e irmãs que mostrem que o poder da esperança é o começo da nossa ressurreição.
“Tudo o que está coberto vai ser descoberto; e tudo o que está escondido será conhecido” (Mt 10,26). Jesus nos consola com suas palavras. Tudo será descoberto, nada ficará escondido. Ele chama-nos a não ter medo porque tudo aquilo que hoje se realiza na escuridão será conhecido.
Jesus nos convida uma vez mais a escutar novamente suas palavras e não deixar que o medo condicione nosso agir, mas, pelo contrário, colocar nossa confiança nele que está no meio de nós!
Como diz o papa Francisco: “Não tenham medo de gastar a vida por Deus e pelos outros”.
O poder da esperança tira todos os medos e nos vai salvar.
Para que a esperança vença nossos medos existe um caminho: recuperar a intimidade e a confiança em Deus.
Frei Gunther Max Walzer