Homilia - 06/08/2023 - Transfiguração do Senhor
O texto do evangelho da Transfiguração de Jesus relata a experiência que Pedro, Tiago e João tiveram com Jesus Cristo, no Monte Tabor. Na viagem para Jerusalém, de repente, Jesus faz uma parada para rezar. Foi rezar lá no alto de uma montanha. Foi conversar com o Pai, refletindo e dialogando sobre sua missão, e tirando daí energia e força para cumprir sua missão.
Num dado momento, Jesus aparece diante dos apóstolos transfigurado. É importante compreendermos o próprio sentido do termo transfiguração: mudar de figura. Jesus, que era conhecido pelos seus discípulos, até aquele momento, como homem, se apresenta, agora, como Deus, mudando a sua figura. Ele revela sua divindade, sua vida divina. Por isso se ouve uma voz dizer: “Este é o meu Filho, o Escolhido”.
“Dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias“. Por que esses dois? É que Moisés faz lembrar a saída da escravidão do Egito e a aliança do povo com Deus no monte Sinai, e Elias representa todos os profetas da antiguidade.
Sobre o que conversaram? Foi uma conversa um tanto desagradável: falaram do sofrimento, das dificuldades, da cruz, da morte de Jesus em Jerusalém.
Qual o sentido da transfiguração? No fundo, a transfiguração está querendo dizer o seguinte para Pedro, Tiago e João, e também para nós: Olhem bem! Atrás desse Jesus que vai ser morto pela maldade humana se esconde a glória de sua divindade, que ainda vai se manifestar. Aguardem o que vai acontecer depois! Ele é o Filho de Deus, o Escolhido para uma grande tarefa, a de vencer o pecado e a morte pela morte e ressurreição.
Ao despertarem do sono, os três não querem descer da montanha. “Como é bom, Senhor, estarmos aqui!”. Para quê descer da montanha? Lá embaixo tudo é tão complicado; tudo é tão difícil... Fiquemos por aqui, pedem! Mas, o Senhor demonstra que o que viram deve ser testemunhado aos outros através das obras de evangelização e da prática da caridade.
Quando passo no centro de Florianópolis, durante os dias da semana, vejo que muita gente faz das igrejas um Tabor: um lugar de refúgio. Muitas pessoas procuram este oásis de paz no meio do barulho e agito do cotidiano. É claro que há momentos em que procuramos abrigo na casa do Senhor. A igreja pode servir para isso, ou talvez um canto (uma poltrona) em nossa casa.
Como Jesus, na planície, foi ao encontro dos desfigurados pela doença e desesperança, devemos ir ao encontro das pessoas e, principalmente, dos jovens que precisam transfigurar a vida.
Como é o rosto dos jovens que se encontram na planície da vida? Rostos jovens e bonitos ganham capas de revistas, de cartazes de propaganda, e são destacados nas novelas e na TV.
No entanto, a realidade dos jovens é outra. Encontramos o rosto desfigurado pela violência.
“De acordo com o Mapa da Violência, enquanto a taxa de mortalidade total da população brasileira caiu, a dos jovens subiu, puxada pelos homicídios. Na população não jovem, 2% das mortes são por homicídios. Entre os jovens esse percentual é de 40%”.
Encontramos, também, o rosto desfigurado pela rede virtual. Apesar de ser uma das “maravilhosas invenções da técnica”, a internet, bem sabemos, não é um meio sem riscos. Uma estatística mostra que 46% dos paulistanos, de 6 a 18 anos, não são fiscalizados pelos pais acerca dos sites acessados. Isso aumenta o risco de serem vítimas de pedofilia. Encontramos na internet grupos que defendem violência, consumo de drogas, preconceitos, pornografia.
“Sem o rosto jovem a Igreja se apresentaria desfigurada”, disse o Papa Francisco na JMJ.
Nosso questionamento: Qual é o rosto de nossas paróquias? De nossas comunidades? Somos capazes de reconhecer no rosto da Igreja, o rosto dos jovens; e no rosto deles, a comunicação de Deus? Aprendemos a ler os sinais que Deus nos revela por meio deles?
“Da nuvem saiu uma voz que dizia: ‘Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!”.
O centro da transfiguração é a visão de Cristo que nos transforma, através de sua Palavra. Jesus deve ser escutado. O mundo de hoje deve voltar a escutar Jesus. Só assim será feliz.
Frei Gunther Max Walzer