Homilia - 20/08/2023 - Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria
A Festa da Assunção de Maria, que estamos celebrando hoje, pode dar uma luz, uma esperança, um novo incentivo, diante da situação difícil de tanta violência, corrupção, mudanças climáticas e doença incuráveis. O desânimo está cada vez mais tomando conta de muita gente. Quando vai acabar essa situação catastrófica? Pergunta, mais perguntas!
A Igreja está olhando para Maria, a jovem de Nazaré, como alguém especialmente escolhida por Deus para uma missão de suma importância no seu projeto de salvação da humanidade: possibilitar a encarnação do Filho de Deus.
O texto do evangelho de hoje nos é muito familiar. Maria visita Isabel. É aclamada pela prima como bendita entre as mulheres e recita uma oração de louvor pelas maravilhas que o Senhor começa a realizar nela. Lucas põe nos lábios de Isabel estas palavras que resumem o significado de Maria para a comunidade cristã: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu" (Lc 1,45).
Estamos tão acostumados com essa cena, que temos dificuldade em pensar nela com a simplicidade que realmente teve. Nossa imagem de Maria já vem marcada pelo louvor. Chamamos Maria de Rainha de tantas coisas! Mas naquele momento havia apenas duas mulheres do povo num lugarejo sem recursos e sem importância. Qualquer vizinho que passasse por ali diria que estava acontecendo naquela casa o que se chama por aqui de uma “corriqueira conversa de comadres””.
Aliás, a vida toda de Maria será muito simples. Destoa da vida da maioria das nossas “vidas de santo”, em geral cheia de milagres e fatos que despertam a atenção nossa. O Senhor fez maravilhas na simples vida de uma moça que se coloca à disposição para ser instrumento da graça, sem estardalhaço. E nenhum santo foi maior que ela!
Maria assumiu a sua missão, mesmo sem saber quais seriam as consequências para si desse ato de fé e coragem. Foi descobrindo, então, a cada dia e a cada novo acontecimento, como o projeto de Deus ia se desenvolvendo na historia do menino que ela gerou. Seu compromisso não foi só o de “dar à luz um filho”, mas de acompanha-lo na vida, de favorecer as condições para que ele, na medida que fosse crescendo, pudesse também assumir o seu papel no mundo. Fiel ate o fim, ficando ao lado de Jesus até a cruz e presente junto à comunidade dos discípulos do Ressuscitado, Maria cumpriu plenamente sua missão.
Maria canta seu hino do “Magnificat”. É um canto de combate pela instauração de um mundo mais igual. Ele se inspira em outros cantos de libertação entoados por diversas mulheres do Antigo Testamento. Reflete também o programa do Reino de Deus.
Maria exalta as grandes coisas que Deus operou nela e fez a seu povo. O Salvador que nascerá trará a seu povo a salvação, um reino de justiça, de igualdade. Deporá os poderosos dos seus tronos e elevará os humildes; cumulará de bens os famintos e despedirá os ricos de mãos vazias
Maria aparece aqui como a mulher forte, representando o povo oprimido. Ele grita por justiça e inspira a esperança de um mundo mais pleno de amor e solidariedade, que Cristo vai implantar.
Nesse sentido, estamos contemplando nesta festa dedicada a Maria, as maravilhas que Deus realizou nela.
Contemplando a trajetória dessa mulher de fé, comprometida com o Filho na realização do projeto do Pai, a Igreja entende que Maria realizou plenamente a sua vocação. É por isso que acreditamos que ela foi levada ao céu “de corpo e alma”, quer dizer, inteiramente acolhida no mistério de Deus, participando da ressurreição do seu Filho. Ela já está ressuscitada no pleno sentido da palavra. É o desfecho de uma vida plenamente voltada para Deus. Maria respondeu incondicionalmente ao Projeto de Deus na sua vida. Participou na luta e no sofrimento do seu Filho e participa agora da sua glória.
Ela já goza da plenitude da vida anunciada e garantida para todos nós por Cristo. De fato, como nos lembra a segunda leitura de hoje, nós também somos chamados a participar da ressurreição de Cristo, a ter acesso à feliz realidade que “Deus preparou para os que o amam”.
Frei Gunther Max Walzer