Homilia - 03/09/2023 - XXII Domingo do Tempo Comum
No domingo passado, os textos da liturgia nos levaram a perguntar: “Quem é Jesus?”. Hoje, podemos perguntar: “Quem é o cristão?”.
O diálogo de Jesus com Pedro esclarece que o cristão caminha com Jesus na estrada da vida, com a conhecida condição do seguimento a Jesus: “Quem esquece a si mesmo por minha causa terá a vida verdadeira”.
O prêmio dos seguidores de Cristo, portanto, é a vida eterna. Parece que a palavra que mais se usa e mais se ouve é a palavra “ganhar”. Ganha-se na mega-sena, ganha-se o jogo de futebol, ganha-se um presente de aniversário, ganha-se desconto especial na loja. E quem vai ganhar uma eleição? Os candidatos a cargos públicos fazem de tudo para ganhar eleições. Parece que sempre e em tudo queremos ganhar. Mas, no texto do evangelho, Jesus “joga água fria na fervura” quando diz: “o que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida verdadeira” (Mt 16,26).
Sabemos, que certas coisas não vale a pena ganhar, conquistar, inventar, porque o custo humano e social pode transformar o ganho em um desastre. Em troca de vantagens pessoais e econômicas, podemos perder pessoas queridas e amizades. Nem tudo que nos é oferecido é tão bom e inofensivo quanto parece. “Nem tudo o que brilha é ouro”, diz um provérbio popular. Mas parece que sempre houve um confronto entre o projeto divino e a mentalidade humana, atualmente, é caracterizada pelo relativismo, a globalização e Nova Ordem Mundial.
Jesus, no texto do evangelho, começou a dizer claramente aos discípulos: — Eu preciso ir para Jerusalém, e ali os líderes judeus, os chefes dos sacerdotes e os mestres da Lei farão com que eu sofra muito. Eu serei morto e, no terceiro dia, serei ressuscitado.
Então Pedro o levou para um lado e começou a repreendê-lo, dizendo: — Que Deus não permita! Isso nunca vai acontecer com o senhor!
É forte a resposta de Jesus: “Saia da minha frente, Satanás!”. Esta frase de Jesus dirigida a Pedro não está dizendo que Pedro é um Satanás, mas colocando Pedro no seu devido lugar: aquele que segue os passos de Jesus. Jesus coloca Pedro de volta “na linha”, porque não pensa “como Deus, mas como os homens” (v 23) e sem perceber faz a tarefa de Satanás, o tentador.
“Se alguém quer ser meu seguidor, esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhe.”
Certamente, Jesus não está preocupado com número, com o tanto do grupo de pessoas que caminhava com ele. Quando vê que muita gente o segue por causa de milagres, de ensinamentos, ele resolve revelar o que lhe irá acontecer: vai sofrer, ser crucificado, morrer... Por isso, para que ninguém pense que seja enganação o que ensina, ele fala abertamente. Quem quiser segui-lo precisa aceitar a Cruz, precisa aceitar a vergonha da Cruz.
O que é a Cruz?
A Cruz não é sinônimo de sofrimento, de dor, de dolorismos, mas é morrer para as coisas do mundo e ressuscitar para as coisas de Deus. Isso está resumido na frase “quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la”. Quem construir a vida com os valores do mundo acabará perdendo-se nas propostas existências que o mundo oferece: poder, dinheiro, fama... e coisas assim.
Ninguém de nós escapa da cruz da ingratidão, das palavras falsas, das difamações, críticas, injustiças no nosso lugar de trabalho, falta de compreensão.
Às vezes, mais pesada do que a cruz que os outros nos colocam nos ombros, é a cruz que está dentro de nós: são as dúvidas, a fome de Deus. É a cruz das tristezas e da solidão, as doenças, a depressão.
E tomemos cuidado para não colocar uma cruz nos ombros dos outros. Não transformemos a vida de ninguém num calvário. Não façamos do nosso lar um lugar de acusações mútuas. Não façamos de nossa profissão um instrumento de tortura ou opressão. Não crucifiquemos ninguém com nossas palavras ou nossas próprias ingratidões.
Tomemos cuida para não ferir ninguém com nossos gestos e nossas atitudes.
Que nossos beijos e abraços nunca sejam beijos de traição ou hipocrisia, mas beijos de perdão, de amor sincero e de amizade.
Então, quem é o cristão?
A resposta pode ser dada em uma frase bem simples: o cristão verdadeiro é aquele que se faz discípulo e discípula de Jesus. Esse é o verdadeiro cristão. Aquele que faz do Evangelho um modo de viver, aquele que sabe que o Evangelho dá sentido à sua vida e a toda sua existência.
Sobre os cristãos o Papa Francisco disse certa vez: “É triste encontrar cristãos "aguados", que parecem vinho diluído, e não se sabe se são cristãos ou mundanos, como o vinho diluído que não se sabe se é vinho ou água! É triste isso. É triste encontrar cristãos que não são mais o sal da terra, e sabemos que quando o sal perde o seu sabor, não serve mais para nada. O seu sal perdeu o sabor porque se entregou ao espírito do mundo, ou seja, se tornou mundano.”
Cristão é quem segue Jesus, acredita e aceita sua proposta de vida. Ser cristão é viver o Evangelho. É praticar a justiça, a fraternidade e o perdão. Seguir Jesus significa viver no amor.
Frei Gunther Max Walzer