Homilia - 03/12/2023 - Primeiro Domingo do Advento
Iniciamos neste primeiro Domingo do Advento um Novo Ano Litúrgico. É ocasião para nos desejarmos “Feliz Ano Novo em Cristo”. Vivemos, atualmente, num tempo difícil: guerras muita violência, enormes problemas econômicos e financeiros, fome e tragédias causadas por mudanças climáticas. Como podemos sentir felicidade se tantas pessoas estão sofrendo? Poderíamos, também, tecer comentários meio desanimados: vai se repetir tudo; já vimos este filme antes”. Quantos Tempos de Advento já celebramos? Quantos Natais? Já passaram vinte e três anos do Terceiro Milênio do cristianismo, e será que o mundo está melhor? Apesar de todos os apelos dos papas e da Igreja pela paz, estamos vendo crescer a cada dia o ódio, a intolerância, a violência, a injustiça, as guerras, o racismo e o medo. Teremos de concordar com os pessimistas e dizer que a humanidade não aprende, “nem que Deus desça do céu”? podemos ainda ser otimistas quanto ao futuro do nosso mundo ou esperamos pelo pior? Mas a pergunta mais importante é esta: o que iremos fazer?
Este Tempo do Advento nos convoca a levantar a cabeça, a olhar para a gente, a acreditar no futuro e construí-lo passo a passo, retomando a caminhada, alimentando os nossos sonhos a assumirmos a nossa parte de ação para que eles se realizem. Celebrando este Advento é tomar de novo consciência de que arregramos conosco as sementes da esperança de um futuro mais feliz.
As leituras dos textos deste primeiro Domingo de Advento nos mostram como devemos viver esse tempo: “vigilantes na esperança”. A leitura do profeta Isaias (Is 63,17-19) começa com uma recordação de como Deus é e de suas ações realizadas em favor do povo. Depois vem a súplica, a lamentação, o arrependimento. Da mudança do coração do seu povo nascerá uma nova humanidade.
A Carta de Paulo aos Coríntios (1Cor !,3-9) é um apelo a esperar o Senhor que vem, dando testemunho com os dons recebidos. Dons que resumem as bênçãos messiânicas concedidas em Cristo. Para Paulo, todo sentido do Evangelho é orientar para a pessoa de Jesus Cristo. Paulo expressa sua ação de graças a Deus por tudo o que Ele realizou na comunidade por meio de Jesus Cristo.
No atual contexto histórico, o distanciamento de Deus passou a ser considerado natural. É o grande risco que todos corremos: pensar que não precisamos de Deus. Entende-se, pois, a insistência de Jesus para se viver vigilante, não acomodado e sem medo. Existe a promessa que ele voltará; promessa para ser acolhida com a fé e com esperança ativa e produtiva.
O Advento é o tempo propício para um bom exame de consciência sobre o modo como se está vivendo, como está o cultivo da fé cristã na vida pessoal. Relacionando-nos à parábola dos talentos (Mt 25,14-30), proclamada no Evangelho de dois Domingos atrás, a Liturgia repropõe a questão da vida rentável. Podemos nos perguntar se vivemos uma vida superficial, improdutiva, ou se nossa vida é produtiva na administração da casa do Senhor com atitudes de misericórdia, fraternidade, promoção da paz...
Paulo diz que a comunidade recebeu a graça divina para produzir ainda mais graça; para isso assinala dois comportamentos: a perseverança e o procedimento irrepreensível (2L). A comunidade cristã não desanima; é perseverante, mesmo que os resultados não sejam os esperados. A comunidade cristã é convidada a ter um comportamento irrepreensível no testemunho da fé de quem espera vigilante o encontro definitivo com o Senhor.
Com alegria, portanto, enchemos nosso coração de esperança para retomar a caminhada que nos conduz ao encontro do Senhor que vem!
Frei Gunther Max Walzer