Homilia - 17/12/2023 - Terceiro Domingo do Advento
Quando, no meio de graves problemas, surge uma esperança de solução ou uma melhora, o pessoal costuma dizer: Está aparecendo uma luz no fim do túnel. Estão lembrados, nos domingos de algumas semanas para cá, as leituras só falavam em fim do mundo, tomar cuidado porque o Senhor vem de repente e, por isso, devamos ser vigilantes.
Hoje é o terceiro domingo do Advento . Este domingo é o domingo da alegria, quando celebramos a boa nova na expectativa de receber o Salvador que vem!
Nas grandes encruzilhadas da história do povo bíblico, sempre surgiram pessoas iluminadas, cheias de Deus, que apontaram saídas para a crise, indicaram o caminho a seguir, animaram os desanimados, alimentaram a esperança dos que já estavam por desistir.
O profeta Isaías era um desses homens que ficou na memória e no coração do povo. Num momento em que tudo parecia perdido e o povo não tinha mais ânimo para retomar o caminho, para reconstruir a nação, para começar de novo, esse profeta vem cantando e falando de coisas novas que Deus fará. Quando reinava tristeza, a desolação, a falta de ânimo, ele anuncia uma festa; onde ninguém conseguia ver a mínima possibilidade de nascer alguma coisa, ele anuncia que Deus vai plantar a justiça, vai transformar a vida do povo num jardim bonito.
Será que não estamos precisando hoje de uma dessas injeções, não seria esta a vacina da cura que procuramos?
Há pessoas que querem fugir de situações tristes e de conflitos. Fazer festa só tem sentido quando temos certeza de que podemos vencer os problemas. Foi para dar uma sacudida no povo que João Batista assumiu o papel de profeta. É verdade que ele não falava em festa, em alegria, mas convidava o povo a pôr-se a caminho, a arrumar a vida para encontrar-se com Alguém muito especial que “já estava no meio do povo”, e que viria trazer a alegria tão sonhada.
Logo, no início do Evangelho, João Batista é apresentado como “testemunha, para dar testemunho da LUZ” (Jo 1,6-7).
Todos sabem o que acontece quando caminhamos na escuridão: esbarramos, caímos, nos machucamos. À noite, numa floresta facilmente podemos ser mordidos por uma cobra ou podemos nos ferir com espinhos.
A vinda de Jesus ao mundo é como a chegada da luz. De si mesmo Jesus disse: “Eu vim como luz do mundo” (Jo 12,46).
Muitas luzes apresentam-se a nós hoje. Quantas luzes enganadoras tentam nos seduzir! Quantas propostas enganosas nos são apresentadas!
João Batista nos indica a luz verdadeira e dela ele dá testemunho: é Jesus. Ele não desilude, mostra os verdadeiros valores, aqueles pelos quais ninguém se arrependerá de ter empenhado a sua vida.
Na segunda parte do evangelho fala-se de um grupo de sacerdotes e levitas (os sacristãos daquele tempo) que se apresentam a João Batista, querendo saber quem ele era. Afinal, quem junta tantos discípulos deve ser olhado mais de perto, porque a qualquer momento ele pode se tornar uma ameaça ao poder estabelecido. Eles levantam três hipóteses: será ele o Messias? Ou, talvez, Elias? Ou o profeta esperado? Ele afirma não ser nenhum deles. E eles nem desconfiam que algo radicalmente novo está surgindo. Não desconfiam que João é apenas um pequeno sinal de algo muito, muito maior!
E João Batista se define: “Eu sou a VOZ”. Nada mais! O que á a voz?
É um conjunto de sons que servem para transmitir uma mensagem e o que acontece depois com a voz? Nada. Ela desaparece.
Fica somente a mensagem que ela transmitiu. Vejam o que é o João Batista; uma voz que dá testemunho da vinda da luz ao mundo e depois, cumprida a missão, desaparece.
Pergunto: de que modo é possível chegar a reconhecer em Cristo a luz da nossa vida? De uma única maneira: através do testemunho de alguém que nos fale, como fez o Batista. A fé não nasce de raciocínios ou de revelações particulares, mas da escuta da “voz” de alguém que encontrou Cristo antes.
E de que nos falam as vozes nos jornais, na rádio e no noticiário da TV? Só se fala em corrupção, narcotráfico, drogas, violência, pornografia...
Onde encontramos a voz de João Batista? Onde encontramos a "voz que grita no deserto"? Onde está a voz no meio de tantas vozes que blasfemam o nome de Deus?
Não somos nós, hoje, a voz de João Batista que grita no deserto?
Depois de mais de dois mil anos, as palavras de João deveriam ressoar com nova matiz. "Eu não sou o Messias. Mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis".
O que sobrou da luz que veio ao mundo 2023 anos atrás? Apenas crucifixos em nossas casas e até em repartições públicas. As Bíblias grandes e bonitas que enfeitam a sala de nossas casas. Fazemos feriado no Natal, mandamos mensagens de felicitações para nossos amigos, o comércio faz propaganda com Papai Noel que não tem nada a ver com Jesus, para comprarmos presentes para o dia de Natal.
Será que as pessoas se dão conta do significado de Natal? Será que, mesmo nós cristãos, conhecemos o conteúdo do projeto do Reino que Jesus anunciou e o significado da salvação pela qual Jesus sacrificou sua vida?
O testemunho nosso é a melhor preparação do Nata! O tempo do Advento é uma oportunidade para rever a importância do testemunho da fé e avaliar a vivência da nossa fé em nossas famílias, no lugar de trabalho e na sociedade.
Frei Gunther Max Walzer