Homilia - 28/01/2024 - IV Domingo do Tempo Comum
Diz o ditado: “Neste mundo nada se cria, tudo se copia”. Realmente, é muito difícil ser original. Quantas vezes a gente ouve dizer que, nas novelas, basta assistir a uns capítulos do começo, mais alguns do meio e o final para entender tudo o que o autor ficou dizendo em mais de duzentos dias com a história. No campo da música não é diferente. Quem é que não está cansado de ver a fila interminável de bandas e duplas cantando todos a mesma coisa. Parece um tango argentino que tem a sua fórmula infalível: amor traído e um bom trago de vinho.
Algo maravilhoso Deus trouxe ao nosso mundo, através de seu Filho, Jesus Cristo: o Evangelho, a Boa Nova. Uma doutrina que não apenas vai fazer a diferença com todas as outras religiões, mas faz uma divisão de águas na história da humanidade, pois Jesus faz um corte no calendário: antes e depois de Jesus Cristo.
Hoje, no Evangelho, encontramos Jesus na sinagoga de Cafarnaum. Ele dá lições de vida. O que mais chama atenção na atitude de Jesus é a autoridade com que ele age e ensina. Seus ouvintes perguntam, admirados: “O que é isto? Um novo ensinamento com autoridade!” (Mc 1,27). Eles estavam acostumados a ouvir os escribas e fariseus sempre interpretando e ensinando textos da tradição. Agora, os ouvintes de Jesus veem esse que ensina a partir de sua própria autoridade.
E suas palavras não são apenas palavras bonitas que tocam o coração, sentimentos. Jesus é autêntico, não vive com uma fachada, a pregação e a vida não ficam separadas, é ele, assim como ele é. Vive e ensina o Reino de Deus, por palavras e ações, ele é coerente. É por isso que os ouvintes reconhecem a sua autoridade, ao contrário dos doutores da lei.
Jesus sabe que sua autoridade vem do Pai. Ele expulsa espíritos maus que estavam dentro de certas pessoas. “Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem” (Mc 1,27).
Antigamente, o povo não tinha os conhecimentos científicos de que dispomos hoje, nada conhecia de micróbios, de bactérias e vírus, de epilepsia, de psicoses, e o povo acreditava que todas as doenças eram provocadas por algum “espírito mau”.
O fato relatado no Evangelho, a luta de Jesus contra um destes “espíritos”, tem um significado simbólico. Mas aí está a ironia do fato de ser justamente o “espírito mau” o primeiro que reconhece que a autoridade de Jesus vem de Deus. “Sei muito bem quem é você: é o Santo que Deus enviou!” (Mc 1,24).
E quem são os espíritos maus hoje? Ainda encontramos espíritos maus?
Será que temos a consciência de que herdamos de Jesus Cristo a mesma palavra e a mesma autoridade sobre todos os “espíritos maus”?
Estamos conscientes de que a palavra do Evangelho, quando anunciada com transparência, é um ataque vigoroso contra qualquer “demônio”?
Mas que demônio? Forcas demoníacas, com certeza, são os sentimentos racistas que impelem ao ódio, à discriminação, às injustiças contra os que são diferentes de nós; “demônios” são os vícios da bebida e da droga, a ganância, a paixão sexual desenfreada e incontrolada. Enfim, “espírito mau” encontramos em tudo aquilo que prejudica as pessoas, fofocas e mentiras, palavras e atitudes que tiram a dignidade do homem e da mulher.
“Espíritos maus” encontramos nos “fake news” que são armas usadas pelo demônio quando criam falsas notícias visando enganar e até mesmo manipular pessoas. A difusão de ‘fake news’ pode contar com um uso manipulador das redes sociais que tentam tornam verídicas notícias falsas.
Assim podemos encontrar, hoje, um “mau espírito”. E onde estaria a autoridade que se opõe aos “espíritos maus”? Diz-se que, hoje, já não há autoridade na família, na escola, na comunidade, na sociedade.
Eu tenho a impressão que isto infelizmente acontece muitas vezes na nossa vida: somos incoerentes, pouco autênticos, há uma discrepância entre a palavra e a ação. E é assim que ficamos sem autoridade. Que perdemos credibilidade.
Mas há uma esperança, há uma solução para nós: À medida que os ensinamentos de Jesus fizerem parte da nossa vida cotidiana, os espíritos maus não encontram mais espaço em nossa vida, pois é o Espírito Santo quem conduz os pensamentos e os atos de todos e de cada um de nós.
Que Deus atenda nossa prece: "Livrai-nos do mal!".
Frei Gunther Max Walzer