Homilia - 21/04/2024 - IV Domingo da Páscoa
Quando se procura identificar uma pessoa ou a paternidade de uma criança usa-se o teste do DNA. O DNA está presente nas estruturas de cada célula humana. Ele determina tudo o que a pessoa é fisicamente. Mas o DNA não é visível “a olho nu”. Uma criança pode parecer-se fisicamente com um adulto, por exemplo: ter o mesmo tipo de cabelo e a mesma cor de pele. Mas só um teste de DNA pode manifestar com certeza se tal criança é mesmo filho de tal pessoa.
João afirma em sua Carta (1João 3.1-2) que nós somos de fato filhos de Deus: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deus: de sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos!”. Ele vai até mais longe, dizendo: “Desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”.
Poderíamos usar a linguagem cientifica de hoje para compreender o que João está querendo dizer: Todos nós temos o “DNA” de Deus.
É claro que não se trata da estrutura física, corpórea, biológica. A nossa semelhança com Deus não se dá no plano físico nem no biológico.
João afirma que o único sentimento que podemos atribuir com certeza a Deus é AMOR. E a capacidade de amar é a marca que o próprio Deus deixou em nós. “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus!”. Nossa semelhança com Deus é, portanto, a capacidade de amar.
Ao nos criar, homens e mulheres, Deus nos fez seres que se relacionam. Em outras palavras, somos seres capazes de nos relacionar uns com os outros pela maneira mais sublime de relação que pode existir: o AMOR. Somos, sim, capazes de amar! Isto nos faz semelhantes a Deus, isto nos torna imagens dele.
Assim podemos usar de novo a linguagem cientifica moderna para compreender o recado que Deus nos dá hoje através das palavras de João: o “DNA” de Deus é o AMOR. E esse “DNA” está presente estruturalmente, em cada “célula” dos seres humanos, está presente em nossa vida. É o amor que nos distingue como filhos desse Pai. O amor é a “prova”, o “teste” que garante: “somos chamados filhos de Deus. E nós o somos!”.
No Evangelho do Bom Pastor, João descreve a identidade de Jesus relacionada ao amor do Pai. É o amor que se manifesta, concretamente, pela doação da vida. Jesus diz de si mesmo: “Eu sou o bom pastor. O bom Pastor dá a vida por suas ovelhas”.
Jesus se apresenta como um pastor que arrisca sua vida para proteger as ovelhas e não foge diante dos perigos. Nesse nosso mundo tão cheio de violência e de riscos de vida, quem não precisa de uma pastor assim?
Nós, como as ovelhas de que falava Jesus, estamos expostos a muitos perigos. Não faltam “lobos” querendo se aproveitar da boa fé do povo ou de gente mais humilde para sair ganhando fortunas. Ou deixar o povo cada vez mais desamparado. É gente que aparece na hora de pedir apoio popular e depois some, deixa a população entregue à miséria, ao desamparo.
O que acontece com o povo, pode acontecer também nos ambientes de trabalho, na família, na comunidade: há amigos de verdade, capazes de se arriscar para apoiar os outros e há os que somem quando mais se precisa deles.
Jesus é um pastor que se compromete, que se arrisca, que leva a sério a segurança e a vida daqueles que lhe foram confiados. O mesmo fizeram os apóstolos, que arriscaram a vida para servir a comunidade. Coisa semelhante fazem os que servem aos irmãos com dedicação no seu trabalho, participando de atividades pastorais e outras mais específicas destinadas a defender os direitos dos mais fracos, buscando a justiça e com isso correndo riscos, gastando seu tempo sem outra recompensa que não seja o gosto de defender o que é certo.
Jesus faz ainda uma segunda afirmação: “Eu sou o bom Pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai”.
No meio da multidão das grandes cidades, e até mesmo dentro da nossa igreja, muitas vezes, a pessoa se sente sozinha, cercada por desconhecidos que não sabem o seu nome, que não se interessam por seus problemas.
Conhecer e ser conhecido é um conforto emocional de qual muita gente está precisando.
Jesus diz que conhece as suas ovelhas e é por elas conhecido. Uma comunidade que anuncia e continua a missão de Jesus não pode ser um amontoado de gente que não se conhece, onde um não conta com o outro, onde cada um vai fazer sua oração como se sempre estivesse sempre sozinho na igreja.
O primeiro passo para ir ao encontro do irmão é isso: conhecer e dar-se a conhecer. E isso não vale só para a hora de ir à igreja. Na família, no trabalho, na luta pelos direitos de que é injustiçado, é importante chegar perto, conhecer os sentimentos e a situação das pessoas, envolver-se. É necessário também dar-se a conhecer, mostrar ao outro o nosso afeto, a nossa sinceridade, a nossa disposição para servir e ajudar.
As primeiras comunidades cristãs eram espaço de intimidade e intercâmbio fraterno. Não estaria bem na hora de recriar esse clima nas nossas impessoais comunidades urbanas?
Recebemos de Deus a capacidade de amar. Mas ainda não se revelou a imagem perfeita de Deus em nós porque nossa resposta ainda é imperfeita. Ainda não amamos “na medida de Deus”. Ainda não estamos totalmente unidos em comunhão uns com os outros. Desde já somos “a cara” de nosso Pai, mas ainda falta o “teste” que vai provar a nossa filiação.
Manifestando agora, em nossa vida, o amor, nossa característica mais fundamental, nosso “DNA” básico, podemos ter certeza de que seremos confirmados nessa relação: “Somos filhos de Deus, de fato o somos”!
“Do AMOR nascemos, no AMOR vivemos, ao AMOR voltaremos.
Antes de concluir, volto a lembrar que hoje é o Domingo dedicado às Orações pelas Vocações na Igreja, de modo particular pelas Vocações sacerdotais e religiosas. Gostaria de reforçar o convite para que rezem, nessa celebração e também em casa, no decorrer deste dia, para que Deus suscite em nossa Igreja bons pastores para conduzir o seu povo nos caminhos do Evangelho.