Homilia - 05/05/2024 - VI Domingo da Páscoa
Está soando ainda dentro de vocês a última frase do evangelho de hoje? Era bem curta: Amai-vos uns aos outros! Se fosse tão fácil “amar” como pronunciar esta frase!
Hoje, portanto, a liturgia nos chama para refletirmos sob nossa prática de amor. Não é possível ver “o amor”, o que se vê são pessoas amorosas, são gestos realizados com amor, são projetos comunitários que visam o amor aos irmãos carentes. Mas será que essa é a prática de nossa vida, de nossas comunidades? Será que é isso que se vê no mundo de hoje?
Um diamante, por exemplo, fica mais brilhante quanto mais claro e transparente. Para chegar a este brilho é preciso a arte da lixa do mestre e a visão antecipada de que essa pedra bruta dá para se transformar numa pedra bem bonita, clara e transparente.
Para refletir sobre o amor cristão é preciso, portanto, “lixar” nossos preconceitos, nossas desigualdades, nossos egoísmos, questionar como estamos cuidando do mundo e de seus habitantes, porque amar é cuidar.
É preciso “lixar” nossos relacionamentos familiares, nossos ambientes de trabalho e até nosso relacionamento dentro da Igreja. Jesus não queria que sejamos somente “bonzinhos” uns aos outros, nem só vaquinhas de presépio. Amai-vos uns aos outros, é mais do que isso. Às vezes, uma comunidade sem conflitos pode ser mais um sinal negativo, mais um sinal de indiferença um ao outro do que um sinal de amor verdadeiro. Por isso, na nossa comunidade temos que aceitar uma certa conflitividade que vai “lixando” e fazendo brilhar o diamante dentro de nós.
O livro dos Atos nos revela que Deus “não faz distinção entre pessoas, pelo contrário, Ele aceita quem o teme e pratica a justiça”.
Nossas comunidades devem, portanto, ser abertas a todos: aos não cristãos, aos poucos convictos, aos indiferentes, àqueles que estão em situação de busca...
O salmo responsorial (98) nos convida em três estrofes para o louvor pelo amor dado por Deus à casa de Israel, aos povos e à natureza. Ele, assim amplia, as facetas do amor e nos chama para uma atitude orante.
O anúncio central da primeira carta de João está na expressão “Deus é amor”. A preocupação de João em sua carta era que a caridade reinasse entre os membros da comunidade, para que fosse conhecido de todos o amor que Deus manifestou ao enviar seu Filho amado.
O Evangelho emprega nove vezes a palavra amor. É o amor do Pai pelo Filho e do Filho por nós comunicados pelo Espírito Santo. Isso gera relacionamento fraterno e solidário.
O mandamento maior é uma postura dinâmica da vida no cuidado pelo outro. “Se obedecerem aos mandamentos permanecerão no meu amor”. Cumprir os mandamentos é viver um projeto de vida e de liberdade como o Pai manda. Não é um romantismo, mas um serviço de entrega da vida. É permanecer na alegria plena. É esse amor que cuida do mundo para que ele seja sempre novo. É viver o mais profundo da relação humana, a amizade, para que o amor permaneça, e sejamos atendidos pelo Pai. Mas o amor não pode vir de um lado só. Se Deus tanto nos amou em Cristo, nós também devemos corresponder. Ora, Deus não precisa do nosso amor para si. Ele quer que amemos os seus filhos, nossos irmãos.
A bem da verdade, a Palavra do Evangelho, pode ser definida como uma grande declaração de amor, que Deus faz a todos nós e a cada um de nós em particular.
Vou concluir chamando atenção para o final do Evangelho, onde Jesus dizia: “para que produzais frutos e o vosso fruto permaneça”. Frutos que provoquem mudanças na vida pessoal e sejam capazes de deixar marcas com quem nos relacionamos.
Frutos que vêm do amor são capazes de transformar a sociedade com a força do Evangelho, com a força da alegria plena que se tem dentro da gente. É assim que se compreende a dinâmica do amor ou a dinâmica da misericórdia. O amor de Deus, volto a repetir, não se resume ao sentimento, pois é a ação do próprio Deus dentro da gente que impulsiona na direção do bem e do fazer o bem. Nesse tempo que vivemos é cada vez mais importante provocar mudanças a partir do amor. No amor está o segredo da vida, porque quem ama vive em Deus. É isso que devemos e precisamos levar ao mundo: levar o amor de Deus e ensinar as pessoas a amar.