Homilia - 25/11/2012 - Solenidade Cristo Rei do Universo
Com a Festa de Cristo Rei, encerramos mais um ano litúrgico da Igreja. Na próxima semana estaremos comemorando o primeiro domingo do Advento, que nos prepara, novamente, para o Natal, a vinda do Menino Deus. A festa de Cristo Rei do Universo é a forma que a Igreja encontrou para coroar todos os esforços e trabalhos das comunidades realizados ao longo do ano.
Cristo, Rei do Universo! Título pomposo, esse!
Jesus é o Rei no mundo de hoje? É Rei no país onde nasceu? Até poucos dias atrás acompanhamos, com muita apreensão e tristeza, a angústia e o desespero das pessoas, vítimas dos mútuos ataques entre Israel e os palestinos, na região da Faixa de Gaza. Podemos somente imaginar o pavor que tomou conta de quem, nos dois lados, estava sob os mísseis e as bombas e, pior ainda, sob os escombros, em meio do sangue e aos gritos de dor dos feridos.
Vivemos num país que se diz cristão. Jesus está reinando no Brasil? Se fosse assim, as igrejas estariam cheias e, em toda a parte, reinaria a justiça, a caridade e a honestidade.
Que rei é este num mundo que refuta seu Evangelho, desdenha de sua Palavra, ridiculariza seus valores eternos, calunia os ministros de sua Igreja...
Na solenidade de hoje, a Igreja não nos propõe nas leituras um grande gesto ou milagre de Jesus, mas nos coloca nas vésperas da sua morte. Jesus é apresentado a Pilatos como malfeitor. Este chama o réu e faz uma pergunta: “Tu és rei?”.
É um momento dramático quando Jesus está totalmente só e indefeso, pois os amigos mais chegados o abandonaram, o povo, a quem ele saciou a fome, instigado pelas lideranças religiosas, havia pedido a sua condenação, preferindo libertar Barrabás. É portanto um momento de fracasso total e vergonhosa humilhação. sendo assim, nessas condições totalmente desfavoráveis, perguntado por Pilatos, que Jesus confirma que é rei.
Pilatos estranha a realeza de Jesus, pois, na sua visão, como pode ser rei alguém que não tem exércitos, nem armas, riquezas e ambições políticas? Jesus retoma a afirmação de Pilatos e diz: “Você está dizendo que eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade”.
Não tem jeito, Jesus é um Rei diferente dos poderosos do mundo. Jesus disse a Pilatos que seu Reino não era daqui deste mundo. Era óbvio.
Um rei sem trono, riquezas e armas não cabia no modelo dos poderosos deste mundo. Jesus era um rei diferente, pois nele estava presente o criador do mundo inteiro. Também as regras e os valores desse Reino eram diferentes. Ele deixou isso bem claro quando ensinou que os últimos seriam os primeiros, que o maior deve ser aquele que serve a todos, que os pobres, os aflitos, os que choram, os que têm fome e sede de justiça são bem-aventurados.
Entendemos que aí aparece gente que diz: o Reino de Jesus é o céu. É um Reino de ordem espiritual e o que passa na terra não conta. Estas considerações a respeito do Reino não valem, pois, a vontade do Pai é a transformação deste mundo. Importante entendermos que não se trata de dois reinos, um terrestre e um celeste, mas de um único. Jesus, no anúncio da Boa Nova, sempre colocou como tema central a justiça, a caridade e a fraternidade. É aqui na terra, no dia-a-dia, que se vivem (ou não) os valores do Reino que Jesus anunciou.
A segunda leitura, tirada do Apocalipse, nos diz: “Jesus que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos nossos pecados e que fez de nós um reino, nos fez sacerdotes para seu Deus e Pai...”. Aqui se diz expressamente que todo o povo de Deus tem missão sacerdotal, não só os que receberam o sacramento da Ordem. Por isso, a Igreja fala em sacerdócio comum dos fieis, missão esta que todos receberam no batismo.
Ser sacerdote é oferecer a Deus os dons desta vida. Qual é o altar do leigo cristão? O altar é a mesa de seu trabalho, a casa, arte, o hospital... qualquer lugar onde algo muito bom é oferecido a Deus.
A construção do Reino de Deus é nossa missão. Todas as áreas da vida humana podem ser espaços onde se vivem os valores do Reino: o trabalho, o ensino, a vida conjugal, a educação dos filhos, a política, a ciência, a saúde, a arte, a comunicação, o lazer, a ecologia, a economia... Cada cristão que “reina” em sua atividade própria no mundo é chamado a ser representante do rei Jesus na sua área de atuação. Não precisamos fazer discursos ou pregações, mas cada um de nós tem que se colocar a serviço de Deus em suas ações, atitudes e decisões.
Talvez devêssemos retomar a pergunta de Pilatos: “Tu és rei?”. Que rei é Jesus hoje para nós? Jesus é o seu Rei? Jesus está reinando em sua vida? Você deixa Jesus governar a sua vida?
Lembro-me de um hino cantado a Cristo Rei em nossas celebrações litúrgicas: “Rei divino que à terra desceste. Vindo a nós de um trono de glória. Alcançaste fulgente vitória sobre a culpa origem da dor! Reina, reina nas almas no mundo. Rei dos reis, Jesus Cristo, Senhor!”. Devemos reconhecer, é difícil ver o estandarte de Cristo Rei em nossa sociedade, pois ao lado dele tremulam muitas outras bandeiras de outros reinos.
Jesus mesmo afirma: “Meu Reino não é deste mundo”. No Reino de Deus não cabe injustiça, violência, fome, miséria, disputas, consumo exagerado. No Reino de Deus não se concebe que um irmão seja lobo do outro.
Quando rezamos “Venha a nós o vosso Reino”, estamos desejando um Reino que tem como fundamento o amor, a verdade, a liberdade, a justiça e a paz.
Mas, não nos iludamos: ele não cairá dos céus. Jesus já o estabeleceu entre nós e nos deixou como seus herdeiros para fazer o Reino acontecer.
É esta nossa missão: reinar com Cristo pelo serviço, pelo perdão, pela reconciliação, enfrentando o desafio da cruz, a fim de que todos tenham vida com dignidade e paz.
Celebremos, pois, com alegria esta solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo. Peçamos insistentemente que seu Reino venha a nós.
Jesus é Rei e somos reis. O seu e o nosso poder é o amor: “Nisto reconhecerão que vocês são do meu Reino, se vocês se amarem uns aos outros.” (Jo 13,35)