Homilia - 10/03/2013 - 4º Domingo da Quaresma
Quando o dia de uma festa está chegando, já sentimos uma certa alegria, começamos a sentir o sabor da festa.
Hoje é o quarto domingo da Quaresma. Quer dizer a festa da Páscoa, a maior festa dos cristãos está se aproximando. Podemos dizer que o dia de hoje, em plena Quaresma, já é um dia de alegria.
Jesus, em sua caminhada para Jerusalém, vive momentos de grande alegria. Um desses momentos é certamente este quando gente pecadora, desprezada pelas lideranças religiosas, ouvindo sua pregação se converte, muda de vida, passa a viver uma vida nova.
Os fariseus e mestres da Lei, no entanto, não aceitam o que Jesus estava ensinando, nem sua conduta. Um exemplo típico nós temos hoje no relato do Evangelho, quando vemos Jesus acolhendo os pecadores, que dele se aproximam para ouvi-lo; e Jesus “faz refeição com eles” (Lc 15,2). No fundo, eles dizem: “Onde é que se viu!... Pessoa com esse tipo de comportamento, que ´acolhe os pecadores e faz refeição com eles´, não merece crédito, porque ele deturpa a nossa religião”.
Jesus, no entanto, não entra em discussão com eles e, simplesmente, conta uma história, a parábola do “filho pródigo”. Esta parábola deveria ser chamada de “parábola do pai misericordioso”, um pai que recebe de volta um filho rebelde.
Jesus fala da atitude de um jovem que quer fugir das limitações impostas pela família, quer conhecer a vida. Será que nós mesmos não temos, às vezes, o desejo de escapar dos limites impostos pela sociedade, fugir de certas regras e leis?
O filho mais jovem quer viver a sua própria vida, quer ter a sua autonomia. Esta tendência podemos observar na juventude que não se preocupa muito com o futuro. O que os jovens querem é divertir-se em discotecas, estar com os amigos, não querem ficar em casa onde eles têm que dividir com os pais e com os irmãos o telefone, a televisão, eles se sentem presos em casa, querem viver sem limites. Eles sentem o desejo de ir embora.
Mas essa atitude – como nos conta a parábola – leva o filho a se perder. Sua vida não tem mais regras nem normas. Esbanja o dinheiro, gasta tudo em futilidades. De repente, percebe que caiu no fundo do posso. Ele, que quis sempre viver independente, agora depende dos outros para sobreviver, encontra-se num chiqueiro entre os porcos.
Quantas pessoas estão em situação semelhante! Pessoas frustradas, fracassadas que não se perdoam por terem destruído suas vidas. Perdem-se mais ainda procurando esquecer tudo através da bebida ou da droga.
O jovem da parábola reage diferente, seu sofrimento o faz refletir e toma a decisão mais acertada: retornar à casa do pai, voltar para sua família: “Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado seu filho” (Lc 15,18s).
Quando chega em casa a surpresa é grande! Como foi que o pai o recebeu? Com um sermão e a lamúria de “como você pode fazer isso com seu pai?”. O pai não o critica, não briga com ele. Vai ao seu encontro, o abraça, o beija e manda fazer uma festa.
“Águas passadas não movem moinho” diz o povo. A parábola nos quer ensinar a importância do retorno e do perdão. Quando cometemos um erro, devemo-nos perdoar, porque Deus nos perdoa também. Deus não nos condena, por isso, também não nos podemos autocondenar. Com o perdão recuperamos a nossa autoestima, podemos voltar a andar de cabeça erguida, podemos esquecer o nosso passado, porque nos reencontramos, ressuscitando assim da morte para vida. “Este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado” (Lc 15,32).
O filho mais velho se aborrece com a misericórdia do pai com que trata seu irmão mais novo. Preferiu ficar curtindo mágoas, cobrando ressentimentos... e perdeu a festa! Não há alegria e festa no coração de quem não perdoa e se reconcilia de verdade! Muitos de nós, certamente, já experimentaram de forma dolorosa o mal que nos faz quando guardamos mágoa, especialmente quando essa mágoa é dirigida a pessoas que amamos: filhos, pais, marido, esposa, amigos.
Paulo nos lembra na Carta aos Coríntios: “Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo” 2Cor 5,17).
Nesta Quaresma, queremos começar uma vida nova. Isso Deus nos faz possível através do sacramento da Reconciliação. São Paulo, ainda, nos lembra na mesma Carta aos Coríntios que “tudo vem de Deus, que, por Cristo, nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação” (2Cor 5,18).
Neste ano, a Campanha da Fraternidade nos faz olhar a realidade dos nossos jovens. A parábola do Evangelho fala de um jovem que levou a metade dos bens de sua família. Bens que, certamente, foram adquiridos com muito suor e sacrifício. Deixou o pai e o irmão para trás. Viveu nas festas e na prostituição e ... perdeu tudo o que tinha. Não é esta também a realidade de muitos jovens... esbanjam dinheiro em futilidades, festas, droga...!?
Um dos momentos marcantes da Jornada Mundial da Juventude onde participei foram as filas enormes dos jovens diante de centenas de confessionários improvisados em campo aberto. Jovens buscando a Reconciliação com Deus no Sacramento da Confissão.
“Não é moderno confessar-se; é difícil e exige sacrifício no início. Mas é uma das maiores graças podermos recomeçar a vida várias vezes... Deus é misericordioso e nada deseja com maior ardor do que nós aproveitarmos ao máximo a Sua misericórdia. Quem se confessou abriu, no livro de sua vida, uma página nova, branca” (Youcat, n. 226).
Na Oração da Campanha da Fraternidade rezamos: “Convertei-nos, e tornai-nos missionários a serviço da juventude”.
Aproveitemos a CF para ajudar os jovens a se achegar mais e mais do Sacramento da Reconciliação. Sejamos exemplos de acolhida, mais do que de correções e punições!
Experiência de uma jovem de 22 anos de Cuiabá na Jornada Mundial da Juventude de Madri, em 2011: “Na confissão pude retornar ao essencial que era ouvir a Deus, nisso o sacerdote me ajudou muito. Quando ele disse: ´Ande pelas ruas, olhe, em tudo Deus está. Vá antes àquele lugar (ele me apontava a tenda de adoração do Santíssimo), nada disso aconteceria se não fosse por Ele, olhe para Ele e verás tudo´. Essa palavras sempre ressoam, em meus ouvidos, quando me lembro da JMJ. Meu coração batia forte, foi como se toda a preocupação e cegueira caíssem por terra. A Mônica que chegou, saiu totalmente outra. Posso dizer que naquele momento vivi intensamente a JMJ, porque, na confissão, percebi o zelo de Deus por mim.”
Mensagem deste domingo: No sacramento da Reconciliação, somos acolhidos, novamente, na casa do Pai misericordioso, que não cessa de olhar para cada um de nós, aguardando nosso retorno. Um Deus que conhece nossas fraquezas e erros, e nos espera sempre de braços abertos! Ele simplesmente confia em nós e sempre nos acolhe!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm