Homilia - 19/05/2013 - Pentecostes
Nossa era é a era da informática. O que seríamos sem a comunicação da internet? Nem podemos imaginar mais nossa comunicação sem satélites, TV a cabo, celular e tablets. Uma notícia chega aos quatro cantos do mundo em frações de segundos. Através das teclas do computador nos comunicamos com o mundo inteiro.
Sim, mas, com toda a evolução da tecnologia, melhorou a comunicação entre as pessoas, ainda há “verdadeira” comunicação? Há mais diálogo, comunicação em profundidade e amor?
Olhando nosso mundo, ficamos até espantados. O que vemos é um mundo de violência, desonestidade, impunidade de grandes delitos, violência, guerras e crueldades. Constatamos até certa agressividade em nossas comunidades, famílias, escolas, trabalho... Até em nós mesmos não é tudo como deve ser: sentimos vingança, inveja, ódio, falta de perdão... Mesmo com todo esse progresso da tecnologia, percebemos nossas limitações. Parece que a força do mal está vencendo.
Hoje, celebramos a solenidade de Pentecostes, a festa do Divino como o povo gosta de chamar. E alguém me poderia perguntar, o que o Espírito Santo tem a ver com tudo isso?
A festa que hoje celebramos trata de um fato de fé, que não pode ser descrito com o mesmo tipo de linguagem que um repórter usa para contar uma notícia no seu jornal.
A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos nos fala que o dom do Espírito Santo se mostrou no fato que todos ouviram falar das maravilhas de Deus em sua própria língua. Isto nos faz lembrar uma narração do Antigo Testamento: a torre de Babel. Os homens queriam fazer uma torre muito alta para ficarem famosos. O orgulho deles era muito grande. Isto não agradou a Deus. Como castigo, Deus confundiu a língua deles de modo que não se entendiam mais e não conseguiram terminar a construção. É uma narração que quer mostrar que o orgulho divide os homens. Ninguém mais consegue entender o outro.
Nosso mundo atual parece, muitas vezes, uma verdadeira “Torre de Babel”. Os contrastes entre grupos e nações são gritantes, e as guerras e violências mostram que ninguém se entende.
A narração de Pentecostes mostra o contrário. Pelo dom do Espírito Santo todos os estrangeiros, cada um em sua língua, entendiam a pregação dos apóstolos. Isto quer dizer que o Espírito quer unir a todos por uma nova linguagem, a linguagem do amor.
Assim são muito significativos os sinais que indicam a presença do Espírito.
“De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania” (At 2,2). O vento nos lembra o sopro de Deus, aquele mesmo sopro que nos faz ser gente, que animou Adão.
“Então apareceram línguas como fogo” (At,2,3). O vento e o fogo simbolizam a ação do Espírito de Deus: força, animação, purificação, coragem. O Espírito tira o medo dos discípulos e os transforma em anunciadores corajosos do Senhor Jesus, leva-os a agir, não os deixa parados.
Mas surge também um sinal novo que não havia ainda aparecido na Bíblia: os apóstolos falam e cada um os ouve falar na sua própria língua de origem! A Igreja nascente inaugura uma nova etapa: não é mais restrita ao povo judeu, ela é para todos os povos. O detalhe é importante: os povos não entendem a língua que Pedro fala. Cada um entende do seu jeito próprio. Ninguém é estrangeiro nessa Igreja, todos compreendem e são compreendidos.
“Todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus em nossa própria língua” (At 2,6). A Igreja, portanto, deve saber traduzir a Boa Nova a todos os povos, a todas as épocas, a todas as culturas, de modo que nenhuma comunidade se sinta estranha dentro da Igreja.
Assim nos fala a segunda leitura de hoje sobre a comunidade como Corpo de Cristo: “Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com o Cristo” (1Cor,12,12).
São Paulo nos diz que há diferentes dons, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Que bom, que Deus não faz clones. Ninguém é cópia de ninguém. Da mesma forma, um dom pode ser diferente do outro, sem ser melhor nem pior. Dons diferentes complementam-se uns aos outros, enriquecem a comunidade.
Mas os “diferentes” precisam se entender, se respeitar, conviver numa alegre aceitação mútua. Não procuremos “converter” os irmãos ao nosso jeito de rezar, de pregar, de trabalhar. Temos que aprender a administrar os diferentes e assim aprendemos a arte da convivência. Essa arte não deve ser aplicada só na Igreja. A família, o local de trabalho, a política, a vizinhança, todos os espaços do encontro humano teriam muito a lucrar com a espiritualidade do diálogo, da valorização do outro, da soma em vez da divisão.
No Evangelho de João ouvimos que Jesus apareceu aos discípulos quando estavam fazendo uma reunião. Tratava-se de uma reunião meio clandestina, a portas fechadas, pois estavam com medo de serem presos e quem sabe, passarem pelo que o Mestre havia passado.
De repente, quem eles vêem! Sem a porta se abrir, o próprio Jesus aparece ali no meio deles, saudando a todos, dizendo: “A paz esteja com vocês” (Jo 20,19). Então provou que era ele mesmo, mostrando-lhes as maos e o lado... E os saudou uma segunda vez: “A paz esteja com vocês”, e ainda acrescentou: “Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês” (Jo 20,21).
O texto do evangelho de hoje termina com as palavras de Jesus: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles serão retidos” (Jo 20,23). Jesus fala da força do Espírito Santo e, logo a seguir, apresenta a administração do perdão como tarefa da Igreja.
É inevitável que, apesar de todas as boas intenções, aconteçam ofensas, mágoas, desentendimentos. A Igreja tem que saber lidar com faltas graves, com problemas humanos sérios, com feridas profundas na vida de cada um, nas famílias, na comunidade. Sem perdão não há cura para os males humanos. Não há como construir paz sem perdão. O exercício do perdão é fundamental: precisamos aprender a perdoar os outros e precisamos aceitar que os outros nos perdoem. Sem perdão sobram ressentimentos, complexos de culpa, rejeições, exclusão, rixas, desprezo dos outros e desvalorização da própria pessoa. Cada cristão deve carregar consigo uma maleta de primeiros-socorros, e nela não pode faltar o remédio do perdão.
Supliquemos a Cristo que se faz pão nesta Eucaristia que nos fortaleça para sermos homens e mulheres de reconciliação e esperança no mundo em que vivemos, discípulos/as missionários/as que, sem medo, como os primeiros discípulos anunciam as maravilhas de Deus reveladas pelo seu Filho Jesus Cristo e o Espírito Santo.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm