Homilia - 02/06/2013 - IX Domingo do Tempo Comum
Na quinta-feira passada, festejamos um dos maiores mistérios de fé, o mistério da presença real de Cristo na Eucaristia. Cada vez que nos aproximamos da mesa da Comunhão dizemos: “Senhor, eu não sou digno de que entreis na minha morada, mas dizei uma só palavra e eu serei salvo!”. Esta frase que, (pelo menos falo por mim), tantas e tantas vezes dizemos de forma rotineira, nos introduz no grande mistério de um Deus que se faz alimento para aqueles que Ele ama.
De quem é esta frase? Quando Jesus entrou em Cafarnaum, um centurião aproximou-se e pediu a cura do seu empregado. Afinal, quem era o Centurião? Centurião era um oficial do Império Romano, que comandava uma centúria (destacamento) de 100 soldados, semelhante a um capitão dos tempos modernos. O exército romano ocupava, no tempo de Jesus, a Judéia, portanto, os romanos eram “inimigos” dos judeus. Mas, com certeza, foi um homem bom, pois a passagem diz claramente que ele tinha muita afeição pelo seu servo, o que naquele tempo seria coisa rara. “Um oficial romano tinha um empregado a quem estimava muito” (Lc 7,2).
Padre Zezinho explicou assim e faz uma pergunta: “O centurião romano, soldado pagão em comando, teve a humildade de orar pelo seu servo. Jesus se encantou com a humildade do homem que não quis tirar proveito de Jesus. Apenas queria que ele curasse o seu servo querido. Quantos de nós oramos pelos que trabalham conosco? Quantos poderiam honestamente dizer que oram pelas suas cozinheiras, lavadeiras e pelos seus zeladores ou balconistas? Quantos de nós oramos pelo futuro deles e de seus familiares?“.
Até os judeus se fazem de intermediários entre o centurião e Jesus, falam dele como um homem bom: “O oficial merece que tu lhe faças este favor, porque ele estima o nosso povo, e foi ele quem construiu a sinagoga”.
Os anciãos dos judeus convencem Jesus de tal modo que ele caminha com eles em direção da casa do centurião. Quando Jesus já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: “Senhor, não se incomode, não entre em minha casa, pois eu não sou digno. Mas fale uma só palavra, que meu servo fica bom. Pois eu sei o que uma palavra é capaz de fazer quando a gente tem poder de mandar, sou militar!" E, Jesus, cura o empregado, à distância.
O centurião fez uma das mais bonitas profissões de fé na eficácia da Palavra do Senhor Jesus.
E Jesus fica admirado: "Nem em Israel encontrei uma fé tão grande!” O oficial romano acredita mais em Jesus do que os judeus. Ele prova isso: quando a palavra de uma autoridade faz obedecer os súditos, a palavra de Jesus, sem dúvida, faz a própria natureza obedecer. A força da palavra do Mestre seria capaz de eliminar as doenças, independemente de sua presença física.
Jesus diz que nem no povo de Israel tem encontrado uma fé tão grande assim.
O que mais se destaca no Evangelho de hoje não é a cura do empregado do centurião, mas a admiração de Jesus por causa da fé deste estrangeiro.
Numa homilia, poucos dias atrás, comentando as leituras da liturgia, o Papa Francisco perguntou: “Como vai a nossa fé? É forte?”. Se Jesus lançasse seu olhar para nós, ele teria a mesma admiração pela nossa fé como a do centurião?
O que é a fé? Fé é aquela confiança irrestrita em Jesus que vem ao nosso encontro, como foi ao encontro do centurião, para nos socorrer em nossas necessidades. O centurião acreditava no poder da Palavra de Deus, presente em Jesus. “Se disseres uma Palavra, meu servo ficará curado”. A fé, portanto, não precisa de ritos, por vezes muito estranhos, nada disso: apenas a força da Palavra de Jesus, pronunciada no silêncio, é capaz de curar.
Precisamos de um certo lugar para fazer nossos pedidos e orações? Não! A própria vida, com suas mais diversas necessidades deve ser o local de oração. Não existe um local específico, ao qual Deus presta mais atenção ou se faz mais presente. Na hora da comunhão, o nosso próprio corpo torna-se morada de Cristo Eucarístico.
O Templo, mencionado na 1ª leitura no Livro dos Reis (1Rs 8,41), é um local referencial onde a comunidade se reúne para louvar e elevar suas preces a Deus. Esta igreja, portanto, é um local onde nos reunimos como comunidade para rezar, para celebrar nossa fé, para celebrar e fazer memória da Salvação divina entre nós.
O Templo é também uma casa de todos. Salomão intercede que Deus ouça as preces dos estrangeiros que rezam no Templo. A afirmação de Jesus que “nem mesmo em Israel tinha encontrado tanta fé como neste homem” surpreendeu muito os judeus. Como Jesus podia dizer que alguém – ainda que fosse muito amigo do povo judeu – pudesse ter mais fé do que os próprios judeus? É como entre nós. Às vezes, encontramos aqui na igreja evangélicos, espíritas, pessoas de outras religiões, gente que não tem religião nenhuma... que aqui vêm rezar. Por isso, nossa igreja está sempre de portas abertas para nós que somos católicos, para aqueles que já foram católicos e aqui vêm (meio escondidos) para matar a saudade e rezar; para aqueles que rezam pouco e aqui aparecem porque precisam pedir algo a Deus.
Jesus não exclui ninguém por causa de sua cultura, sexo ou raça. Jesus, como nos mostra o Evangelho de hoje, acolhe a todos. A palavra de Jesus é dirigida a todos e nos convida à conversão ao acolhimento do Reino de Deus.
No entanto, não podemos confundir o respeito e a tolerância com a permissividade e admitir, simplesmente, que existem muitos caminhos que conduzem a Deus. Muitos desses caminhos são oferecidos por mercenários.
Quero lembrar aqui o “Ano da Fé” e a “Nova Evangelização” que não pretende anunciar um Evangelho novo, mas o mesmo Evangelho com linguagem nova. A “Nova Evangelização” também quer se dirigir aos que já foram evangelizados, mas que deixaram ou se tornaram indiferentes ao Evangelho. Trata-se de todos os que saíram da Igreja, também daqueles que se deixaram influenciar por um Evangelho que não é de Jesus, como diz a 2ª leitura, que foi e continua sendo pregado para atrair adeptos e não tanto para evangelizar.
Afirmando ser a fé uma graça de Deus, o Papa Francisco encerrou a homilia acima mencionada, fazendo esta oração: “Senhor… proteja a minha fé, faça-a crescer, que minha fé se torne forte, corajosa, e ajude-me nos momentos em que devo torná-la pública. Dê-me coragem”!
Com fé digamos juntos: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo”. Assim seja! Amém!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm