Homilia - 04/08/2013 - 18º Domingo do Tempo Comum
O mês de agosto é um tempo dedicado mais particularmente às vocações. Neste primeiro domingo, lembramos os ministros ordenados: bispos, padres e diáconos. A Palavra das leituras de hoje é bem apropriada para todos nós, homens e mulheres, que queremos seguir Jesus, independente do estado de vida. A Palavra de Deus nos convida a revermos nossas opções e não procurarmos falsas seguranças em nossa vida.
A primeira leitura do Livro do Eclesiastes começa com as palavras: “Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade!”. Neste texto, vaidade talvez não seja a palavra mais adequada. O autor quer falar de “coisas vazias”, que não levam a nada, que parecem ter valor, mas não valem nada. O texto diz: para que trabalhar tanto se um dia vamos embora deste mundo e não podemos levar nada daquilo que conseguimos com tanto esforço. A sabedoria popular diz algo parecido numa frase mais curta: “Da vida nada se leva”.
Se só pensamos em lucros materiais, o Eclesiastes e a sabedoria popular têm razão: temos que deixar aqui tudo que temos e possuímos..
No entanto, há conquistas que ninguém nos tira: o que construímos enquanto trabalhamos por alguma boa causa, o bem que praticamos, os amigos verdadeiros que cativamos, a alegria de partilhar.
No domingo passado, o Papa Francisco celebrou a missa do envio na JMJ perante três milhões e meio de jovens vindos de todos os continentes do mundo. O Papa Francisco voltou para Roma e os jovens retornaram para suas cidades. O que ficou? Que legado e lições ficaram da JMJ?
Dessa festa da fé ficaram lições a serem vivenciadas pelos jovens e por todos nós. Grande lição nos deu o Papa Francisco com sua simplicidade, ternura, transparência e proximidade com as pessoas. Havia um clima de unidade e fraternidade, sem incidentes ou violências, que só a presença amorosa de Deus consegue articular e manter.
O que aprendemos?
Quando somos transparentes, autênticos e generosos, por exemplo, é algo que não precisa ser guardado no cofre, não há como se perder. São riquezas que têm uma característica própria: em vez de diminuírem à medida que as gastamos, aumentam. Quem gasta caridade fica cada vez mais caridoso, quem gasta afeto conquista cada vez mais amigos, quem oferece aos outros o que sabe aprende cada vez mais no convívio com as pessoas, quem consegue se libertar da cobiça fica cada vez mais livre.
No Evangelho, Jesus alerta contra falsas seguranças. É importante ter o necessário para viver dignamente, mas a vida é muito mais do que um celeiro cheio, é muito mais do que ter uma gorda conta no banco.
Jesus fala de um homem bem sucedido economicamente. Quando pensava que poderia usufruir de toda essa segurança por muitos anos e “curtir a vida numa boa”, foi surpreendido pela morte. O ensinamento da parábola não é o medo da morte repentina que vem tirar todas as esperanças alimentadas. É, antes de tudo, um alerta para não endeusar o poder e o dinheiro. Quando é a “hora”, não há dinheiro, nem riqueza alguma que pague o direito de viver mais um pouquinho.
Jesus chama a lógica da prosperidade acumulada de “irracional”, é uma loucura!
Paulo nos manda, na Carta aos Colossenses, a “buscar as coisas do alto”, não nos apegando às “coisas terrenas”. Ele explica o que entende por “coisas terrenas”: devassidão, impureza, maus desejos, e diz que a cobiça é idolatria. Há quem ache que as “coisas do alto” não têm nada a ver com os problemas concretos no mundo. Paulo está se referindo àquilo que estraga a vida que Deus quer que a gente viva neste mundo. Ou em outras palavras: deixar as coisas terrenas não é fugir do mundo e ficar só rezando na igreja.
Paulo nos convida a jogar fora o que nos torna egoístas, mesquinhos, ambiciosos (o homem velho) e assumir o jeito de viver o Evangelho (ser o homem novo). Ter uma vida nova significa ser do jeito como Jesus ensinou e viveu: viver na fraternidade, na compaixão, na justiça, no acolhimento dos necessitados.
A maior riqueza, portanto, não são os celeiros cheios que aparecem na parábola de Jesus nem tudo que pudermos juntar no banco. O que dá sentido à nossa vida é o esforço de ser coerente com o conhecimento que temos da proposta de Jesus. Buscar a felicidade onde ela se encontra e não viver a vida inteira insatisfeitos cobiçando mais do que já temos.
Jesus termina sua história, lamentando o homem que junta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus. Jesus refere-se, como se pode deduzir da própria história, a riquezas materiais - e possivelmente a outros valores exteriores da própria pessoa. Quem é rico para Deus, certamente, beneficia-se a si mesmo. Quem junta os tesouros do alto (generosidade, solidariedade, justiça) sai ganhando no que é mais importante: torna-se uma pessoa de altíssima qualidade. Esta pessoa alegra-se com o bem que realiza, vive com grande paz interior. Esta pessoa beneficia também as pessoas que convivem com ela. Todos nós conhecemos pessoas muito queridas que se foram, no entanto nos lembramos do que de mais precioso deixaram conosco: o amor.
Com certeza podemos isso dizer do Papa Francisco. Ao tocar as pessoas e beijar as crianças ele mexeu com o nosso coração. Nunca mais o Brasil será o mesmo. Os cristãos puderam ver um homem de uma fé muito profunda. Sereno e sempre de janelas abertas, se fez peregrino.
Ouvimos um convite quente: seguir a Jesus. De forma convicta e apaixonada! Na missa final em Copacabana, o Papa Francisco fez um pedido categórico: “Queridos jovens, regressando às suas casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho”.
Este é o legado que o Papa Francisco deixou para todos nós.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm