Homilia - 06/10/2013 - 27º Domingo do Tempo Comum
CO Evangelho de hoje começa com um pedido dos apóstolos: “Senhor, aumenta a nossa fé!”. Não é este o mesmo pedido que nós fazemos? “Senhor, dá- mais fé!”.
Hoje, devemo-nos perguntar como está a nossa fé? Que fé nós temos? Nossa fé parou nas fórmulas de orações aprendidas de cor e se limita a fazer pedidos, buscar graças, exigir milagres? Ou dizemos com fé as palavras do “Pai Nosso”: “Seja feita a Vossa vontade!”. É verdade que em tudo vemos a vontade de Deus?
E uma segunda pergunta também é importante nessa avaliação: "Qual é a irradiação da nossa fé? A nossa fé contagia, é passada em nossa família, no ambiente de trabalho e da nossa vida social? Ou sentimos vergonha de falar da nossa fé?
As leituras de hoje, com certeza, nos ajudarão e entender melhor a nossa postura diante da fé.
Na primeira leitura, o profeta Habacuc reclama com Deus por aquilo que anda mal na sociedade, ele só vê violência, corrupção, opressão, roubalheira, disputas, rivalidades e desentendimento. A justiça anda longe da vida do povo. Então o profeta questiona a Deus, que parece ser indiferente ao que está acontecendo com o povo, e, angustiado, pergunta a Deus: “até quando, Senhor?”. A resposta divina veio logo depois que o profeta terminou seu desabafo. Ao profeta Deus garante: “Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé”.
Como podemos avaliar a nossa fé? Diante do pedido dos discípulos de aumentar a fé, Jesus esclarece qual é o critério que devemos ter para avaliar a fé. Primeiramente, Jesus está corrigindo os discípulos. Eles parecem querer mais fé, maior quantidade. Jesus responde que a fé não depende do tamanho mas da qualidade. Jesus compara a fé com a semente de mostarda, cujo tamanho é insignificante, mostrando que a força da fé na depende de sua grandeza. Importante é e o que interessa são as potencialidades contidas na própria semente. De uma semente pequena cresce um árvore enorme.
“Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria." O grão de mostarda é o menor de todos os grãos e já tão pouco é suficiente para movimentar tanto.
Jesus chama a nossa atenção para a força interior que a fé nos dá e os efeitos que ela provoca em nossa vida. Este é o significado da imagem pitoresca da amoreira que se planta com raiz e tudo no mar. De fato, quem tem uma fé firme, convicta, amadurecida e bem embasada produz muito mais alegria de viver, mais coragem para lutar. Com uma fé firme podemos enfrentar as dificuldades e problemas com maior ânimo e esperança. A pessoa de fé tem mais resistência e não se deixa abater facilmente.
Jesus, ainda, conta outra parábola. Um servo cumpre naturalmente as ordens de seu senhor, trabalhando no campo, sem pretender com isso algum prestígio, porque sabe que está cumprindo o seu dever. O que Jesus quer dizer? Se o pedido dos discípulos era para crescer na fé, Jesus responde: o discípulo cresce na fé quando se coloca à disposição para servir.
Esse serviço tem de ser desinteressado, sem buscar reconhecimento ou alguma compensação.
Deus nos deu gratuitamente a participação na vida divina, na família de Deus. Tudo o que temos nos foi doado. Por isso a vida cristã, a vida de quem segue Jesus, é fundamentalmente um serviço aos irmãos. Se Deus nos deu tudo gratuitamente, também a nossa atitude deve ser de doação gratuita, de serviço generoso.
Esse serviço tem de ser desinteressado, sem buscar reconhecimento ou alguma compensação. ”Quando tiverdes feito tudo, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’”.
Será que nós estamos dizendo isso?
Tenho, às vezes, a impressão de que nós, cristãos consideramos os deveres religiosos como se fosse uma obrigação de funcionários, como se tivéssemos algum contrato de trabalho? Até onde vai nosso dever de cristão? Até onde vai nossa obrigação? Sabemos que o único e básico dever do cristão é o amor, e o amor é infinito por natureza. O dever do cristão de amar não tem limites. Se delimitamos a prática do amor por horário ou outras dimensões, isso não é amor. Para Jesus amor é dar sua vida. Portanto, esta é a medida, isto é, uma medida sem medida.
O homem, na parábola, voltando do campo, é solicitado para fazer outros serviços. Isso parece estar fora das concepções do assalariado de hoje que apenas faz o que está no contrato. Mas, não devemos esquecer que Jesus não criou leis sindicais, quis ensinar como devemos estar sempre prontos para servir ao irmão.
Aqui quero mencionar o exemplo da mãe de família. Quando termina o dever da mãe? Existe horário ou limitação de serviço para ela? Pergunto: nossa condição de “servos do Senhor” pode ter horários marcados, ou assinamos ponto?
Não entendamos mal as palavras de Jesus: “somos servos inúteis”.
Se o próprio Cristo "veio não para ser servido, mas para servir", também o discípulo - o seguidor de Jesus – deve assumir o serviço como a sua missão, a sua honra, a sua grandeza.
Em nossa sociedade atual, vemos muita violência, corrupção e maldade como no tempo de Habacuc. Nos dias de hoje, muitos homens e mulheres só pensam em ser servidos, em cobrar tudo o que fazem e, às vezes, cobram até de Deus.
A nossa parceria com Deus é construir o seu Reino. Da nossa fé é que nasce o compromisso com os irmãos, o empenho na transformação da sociedade, construindo um mundo novo, mais justo e fraterno. Assim estamos a serviço do Senhor com tempo integral.
Por fim, consideremos o incentivo de São Paulo na Carta a Timóteu: “Não te envergonhes do testemunho de Nosso Senhor!”.
Não tenhamos vergonha nem medo de pensar diferente da mentalidade materialista e hedonista que sufoca e escraviza tantas vidas, manifestemos com coragem a nossa fé a todos.
Oxalá, possamos dizer, no fim da vida, como disse São Paulo: “Terminei minha vida, guardei a fé”.
Terminando nossa reflexão, digamos: “Aumentai, Senhor, a minha fé”!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm